O apóstolo Paulo deixa claro para os irmãos em Corinto o valor imenso do Reino de Deus na vida da Igreja, do Corpo de Cristo, no seu testemunho ao mundo. O Reino de Deus não consiste em palavra humana, mas no poder (δυναμις)[1]de Deus. O Reino de Deus tem um poder transformador inerente. Sabemos que o conceito de Reino de Deus é o “domínio de Deus no coração do homem”. Este conceito é clássico. O apóstolo Paulo declara que o Reino de Deus “não é comida nem bebida, mas justiça e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). Tanto na defesa do seu apostolado em Corinto, quanto em orientar os irmãos em Roma a não julgarem os seus irmãos mais fracos por cauda do comer e do beber, Paulo enfatiza a relevância do Reino na contramão de valores meramente humanos. Há poder no Reino de Deus. Esse poder traz justiça, alegria e paz no Espírito Santo. Não é a justiça humana como padrão de julgamento, mas a justiça de Deus. A justiça humana é legalista, mas a justiça divina é graciosa com base no Seu amor e na Sua severidade. A nossa justiça é a do Deus gracioso que nos alcançou em Cristo Jesus, mediante a fé como um dom dado por Ele(Ef 2.8-10; Rm 5.1,2).
Fomos transformados pelo poder de Deus na vida do Seu Reino em Cristo Jesus. Esse poder nos leva ao arrependimento e à fé no evangelho (Mc 1.15). A chegada do Reino de Deus é a garantia de vidas transformadas pelo Seu poder. Não é a palavra humana que salva, mas a Palavra de Deus, cheia de poder (Hb 4.12). As Escrituras foram inspiradas pelo Espírito Santo para mudar radicalmente os que creem. Nicodemos ouviu de Jesus que o novo nascimento só ocorre mediante a experiência com a Palavra e com o Espírito Santo (João 3.1-8). A mudança do coração, da vida, vem pela fé na suficiência de Cristo, Aquele que veio pela manifestação do Reino de Deus. Esta é a mensagem central do Reino de Deus.
Quando uma pessoa é transformada pelo poder do Reino de Deus ela tem justiça, paz e alegria no Espírito Santo. Esses três substantivos estão na Pessoa de Cristo. A Sua justiça é a nossa justiça; a paz e a alegria ou o contentamento que inundam a nossa alma vêm dEle, que deu a Sua vida por nós. Uma pessoa transformada vive a realidade do Reino de Deus. Esta realidade é espiritual com todas as suas implicações físicas, emocionais e éticas ou morais. A igreja faz parte do Reino de Deus. Ele é espiritual e invisível, mas age com grande poder neste mundo. O Reino de Deus está em todo o lugar e nada escapa ao Seu domínio. Somos súditos nesse Reino de justiça, paz e alegria. Somos um povo que tem direção e esperança. Sob o Reino, nossas vidas estão plenamente alinhadas e seguras.
Quando uma pessoa é transformada pelo poder do Reino de Deus ela tem justiça, paz e alegria no Espírito Santo.
Damos graças a Deus pelo Seu Reino de amor e poder! Louvamos a Deus pela implantação do Seu Reino não “por meio de manobras políticas bem-sucedidas, capazes de remover os poderes dominadores e substituí-los por governantes que executem fielmente a justiça de Deus. O meio pelo qual aconteceu foi uma derrota humilhante, ainda que, no momento da ressurreição, essa derrota se revelasse a algumas testemunhas escolhidas como a vitória decisiva do Reino de Deus. Ele reina de sobre o madeiro. Assim, como diz o apóstolo, os principados e potestades foram desmascarados. Eles foram desarmados, porém não foram destruídos. Eles ainda existem e têm uma função, a qual exercem por autorização e, portanto, é limitada pela justiça de Deus manifestada em Jesus”[2]
Fomos alcançados pelo poder do Reino de Deus na Pessoa e Obra de Cristo. Agora, temos a nossa cosmovisão transformada pela vida de Cristo em nós. Possuímos a cosmovisão cristocêntrica. Devemos viver em constante serviço no contexto da nossa mutualidade cristã e no mundo (Mt 5.13-16). A nossa experiência com o Reino deve ser semelhante à do profeta Isaias quando foi chamado pelo Senhor do Reino para ser o profeta messiânico(6.1-8). Ele teve a visão da Majestade de Deus; a visão de si mesmo em deplorável condição pecaminosa; a percepçãoda realidade pecaminosa do povo; o desafio da parte de Deus em proclamar o Reino a esse povo; e a sua disposição em testemunhar a Grandeza e Majestade do Rei e a Sua salvação. O “eis-me aqui” do profeta Isaias deve sempre nos remeter à condição de súditos do Rei no Seu Reino eterno, a nossa disponibilidade de pregar o todo evangelho, ao homem todo, a todo homem e em todo o mundo até que Cristo volte.
Sim, transformados pelo poder do Reino de Deus para sermos agentes transformadores desta sociedade narcisista, hedonista e consumista. Somos desafiados a todo o instante a quebrar paradigmas. Chamados ao serviço amoroso e solidário num mundo preconceituoso e miserável. Ordenados a sermos fecundos numa sociedade estéril. A sermos um oásis no deserto. Chamados para uma revolução poderosa e silenciosa sob a égide do Reino de Deus. Transformados pelo poder do Reino de Deus não transformaremos a Grande Comissão na Grande Omissão (Mt 28.18-20; Lc 24.44-49; Mc 16.15; At 1.8). Sim, transformados pelo poder do Reino de Deus vivamos para a Sua glória!
[1]Esta palavra transliterada é dunamis. Significa poder inerente, especialmente em referência a um poder miraculoso; capacidade; abundância, com o sentido de ato poderoso, poder, força, obra de poder. Há uma implicação de poder ético, moral, de virtude. Referindo-se a Deus: o grande poder de Deus, com o sentido de Sua força todo-poderosa (Mt 22.29; Mc 12.24; Lc 1.35; 5.17; Rm 1.20).
[2]NEWBIGIN, Leslie. O Reino de Deus na realidade do mundo. Perspectivas no Movimento Cristão Mundial. São Paulo: Edições Vida Nova, 2009, p.126.
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