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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Vítima de padre pedófilo narra calvário 40 anos depois

(Arquivo) Papa Francisco

Semanalmente, durante quatro anos, ele foi violentado por um padre na Suíça. Mais de 40 anos depois, Daniel Pittet conta seu calvário e sua luta pela verdade em um livro com prólogo do papa Francisco.
"Mon Père, je vous pardonne" (Padre, eu te perdoo), da editora Philippe Rey, publicado na quinta-feira, foi escrito por um ex-monge, atualmente casado e pai de seis filhos.
Daniel Pittet, 57 anos, morador do cantão suíço de Friburgo, conheceu o papa em 2015.
Francisco, com um gesto inédito, aceitou escrever o prólogo de seu livro e destacou que "testemunhos como o seu lançam luz sobre uma zona terrível de sombra na vida da Igreja", abalada por vários escândalos de pedofilia.
"Como pode um padre, a serviço de Cristo e de sua Igreja, chega a causa tanta dor?", escreveu o papa após recordar que algumas vítimas chegaram a se suicidar.
"Estas mortes pesam no meu coração, na minha consciência e na de toda a Igreja. Às famílias envio meus sentimentos de amor e de dor, e, humildemente, peço perdão", destacou.
O autor descreve os abusos que sofreu entre 1968 e 1972 - dos 9 aos 13 anos - pelo padre Joël Allaz, um suíço da ordem dos capuchinhos.
Pittet sofreu quase "200 atos de violação", no silêncio de um convento, segundo conta em entrevista à AFP. Mas basta apenas uma violação "para destruir a vida de uma pessoa". E Daniel Pittet calcula em "mais de 100" as vítimas prováveis do padre Joël.
Somente uma minoria ficou conhecida. "Para uma vítima de violência é muito difícil falar", diz Pittet, que sofreu de depressão e outras doenças.
"Falta de provas"
Daniel Pittet esperou quase 20 anos antes de denunciar o padre Joël Allaz à justiça eclesiástica, depois de ouvir sobre uma nova vítima. O sacerdote foi transferido imediatamente para a França, a uma diocese de Grenoble (leste).
Em 2003, após novas suspeitas, o padre Allaz foi transferido para a irmandade dos capuchinhos de Bron, perto de Lyon (leste), donde dirigia um "serviço administrativo sem ministério".
Mas foi necessário esperar novas revelações para que a polícia iniciasse uma investigação. Em 2008 eram computados 24 casos de vítimas de abuso sexual - a maioria prescritos - cometidos entre 1958 e 1995 na Suíça e na França.
Joël Allaz foi condenado em dezembro de 2011 a uma pena de dois anos de prisão com suspensão condicional da sentença, após um julgamento em que duas vítimas se constituíram a parte civil.
Daniel Pittet foi reconhecido como uma vítima pela diocese de Friburgo e pela congregação dos capuchinhos. Mas a justiça da Igreja não condenou o agressor. Uma investigação eclesiástica aberta em 2002 em Grenoble foi fechada por "falta de provas".
O padre "nunca foi reduzido ao estado laical", lamenta Pittet. O capuchinho, agora com 76 anos, continua vivendo na Suíça. "Me disseram que ele está recebendo ajuda, espero que esteja certo. Mas pode sair do convento", conta a vítima, convencido de que um "pedófilo continua sendo pedófilo por toda a vida".
O agressor concordou em falar em julho de 2016 em uma entrevista publicada no epílogo do livro de Pittet. Joël Allaz reconhece ser "este pedófilo monstruoso que deixou uma série de vítimas", mas garante que não tem mais "este tipo de impulso".
Daniel Pittet o encontrou novamente em novembro do ano passado. "Não falamos de pedofilia. Não me pediu perdão, mas já havia feito isto em uma carta", conta sobre o homem que, segundo ele, "nunca deveria ter sido padre".
Atualmente, este católico comprometido fala "por todos aqueles que não poderão falar jamais". Não culpa a Igreja - embora critique sua "ingenuidade" - por uma praga que pode ocorrer "em todas as famílias". "Poderia ter sido meu tio, foi um padre".


AFP

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