“A questão é que não existe justiça”, ela disse. “Por que estas grandes religiões
globais podem se espalhar e ser reconhecidas, mas a religião original da
Indonésia não pode?”
Em novembro, uma decisão histórica da Corte Constitucional confirmou os
direitos dos seguidores de crenças tradicionais em uma demonstração de
crescente tolerância em relação às minorias religiosas da Indonésia, a
nação mais populosa do mundo de maioria muçulmana. Entretanto,
cinco meses mais tarde, o governo ainda não implementou a norma.
Em um país em que a religião desempenha um grande papel na vida pública,
os seguidores de crenças tradicionais, conhecidas em geral como ‘aliran
kepercayaan’, esperam que a lei finalmente acabe com dezenas de anos de
discriminação não oficial. Por causa disso, é difícil para eles obter uma
autorização para abrir locais para encontros, licença matrimonial e acesso a
serviços públicos, como assistência médica e educação. Além disso, constitui
um entrave às tentativas destes crentes de ingressar nas forças armadas,
na polícia ou no funcionalismo público, até mesmo comprar tumbas nos
cemitérios.
Existem centenas de formas diferentes de ‘aliran kepercayaan’ espalhadas
pelo vasto arquipélago indonésio. Em Java, a ilha mais populosa, ele
constitui frequentemente uma mescla de animismo, crenças hindu-budistas
e islamismo.
Calcula-se que, pelo menos, 20 milhões dos 260 milhões de indonésios
sejam adeptos de crenças tradicionais locais, mas os números podem ser
muito superiores. Alguns são também seguidores do islã, do cristianismo e de outras religiões principais.
A religião é tão onipresente na Indonésia que os cidadãos são obrigados a
declarar nos seus documentos de identidade qual das seis religiões aprovadas
eles seguem, embora em algumas regiões possam deixar este item em branco. Entretanto, este pode ser um convite à discriminação e uma fonte de
problemas burocráticos, por isso muitos adeptos das crenças tradicionais
simplesmente declaram nos seus documentos a religião predominante na área
em que vivem.
Cerca de 90% dos indonésios são muçulmanos, o que confere aos líderes
religiosos islâmicos um prestígio político enorme. Atualmente, alguns grupos
islâmicos ortodoxos querem mudar a Constituição a fim de tornar o islamismo
a religião oficial de Estado.
Entretanto, importantes expoentes da Nahdlatul Ulama, a maior organização
islâmica da Indonésia, apoiam a decisão da Corte.
Arief M. Edie, um porta-voz do Ministério do Interior, informou que a
carteira de identidade nacional está sendo atualizada a fim de incluir o
‘aliran kepercayaan’ como opção no item correspondente à religião do
cidadão. Entretanto, este não será reconhecido como sétima religião oficial
do Estado. “Ele é reconhecido apenas como cultura, e não como religião”,
disse Arief.
http://internacional.estadao.com.br/noticias/nytiw,as-mais-antigas-crencas-da-indonesia-querem-o-reconhecimento-oficial,70002283717
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