Crianças que dividem a rotina infantil – escola e brincadeiras – com a posição de pregadores, se disponibilizando a subir nos púlpitos das igrejas para compartilhar da palavra de Deus com os fiéis que nelas estão. Conheça a história de Matheus Moraes e Ana Carolina Dia, adolescentes que ainda na primeira infância se destacaram por sua desenvoltura ao falar, pela capacidade de raciocínio rápido e boa memória o que os levou a ser responsáveis pela conversão de muitas pessoas, segundo uma matéria do IG.
Matheus (13), foi fruto de uma gravidez surpresa, pois sua mãe teria passado pro um processo cirúrgico para não ter mais filhos, no entanto, teve ao menino. Quando bebê ficou em coma devido a problemas respiratórios e durante este tempo a família buscava forças em súplicas a Deus e a recuperação do menino foi tida como milagre para eles. Algum tempo depois, o pai de Matheus, Juanez Moraes, membro da Assembléia de Deus tornou-se pastor e passado três anos, mesmo não sabendo falar ao certo, o pequeno garotinho começou a seguir os passos do pai e levou pela primeira vez o sermão a igreja, sendo reconhecido como pequeno missionário aos seis anos de idade. “Lembro perfeitamente: foi na cidade de Estrela Dalva, no interior de Minas Gerais, eu nem sabia falar direito.” Conta o menino.
Ana Carolina (17) foi uma das primeiras crianças a introduzir o Brasil nesta novidade (na época) de pregadores mirins. Aos quatro aninhos de idade começou a pregar e aos sete teve um vídeo em que aparecia pregando publicado no Youtube, o qual virou ‘funnk’ e teve recorde de audiência batido – com 2 milhões de visualizações da postagem original. A história da jovem é bem parecida com Matheus, aos três anos ela teve uma inflamação que afetou seu intestino e garganta, ocasionando a uma internação durante dez dias, sendo desenganada pelos médicos, segundo seu o pai, o pastor Ezequiel Dias, que conta: “Ela faleceu em meus braços, até que orei a Deus e a Carolina voltou à vida. E voltou servindo a esse Deu (…) Mesmo falando errado, pois era criança, pregava a Palavra”.
A “Menina Pastora”, como se tornou conhecia, Ana Carolina freqüenta a igreja até hoje e continua pregando a centenas de fiéis, praticamente todos os dias, participando também de congressos e eventos por todo o território Brasileiro. Mas não pense você que ela vive só a pregar em igrejas, a jovem cursa Física na Universidade Rural do Rio de Janeiro. O pai da menina que cuida de todos os interesses da filha, afirma que não existe nenhuma pressão familiar para que ela desempenhe o papel de “pastora” e ressalta também que isso nunca foi problema para ela, conciliar suas funções na igreja com os estudos. Carolina já foi a Europa para pregar e nesses dias tem coordenado sua vida particular com inúmeras funções na igreja.
“Ela (Ana Carolina) teve uma infância tranquila, brincou, viajou o mundo. Conheceu lugares como a Europa, esquiou, fez coisas que eu não teria condições financeiras de bancar. E tudo isso por meio da pregação da Palavra. É uma sensação indescritível ser pai de uma missionária. Creio que milagres não se explicam e não se justificam, e a minha filha é um milagre de Deus”, diz ele Ezequiel.
Ainda que os dois sejam vistos como pedras preciosas à igreja e que quando estão a frente do povo, falando sobre as coisas de Deus sejam despertem orgulho em suas famílias, a rotina deles gera uma preocupação aos profissionais da área de psicologia, ainda que o fato de mobilizar a multidões sejam encarados como uma vocação e não como obrigação, pelo fato da responsabilidade despertada precocemente.
Maria Vita Umbelino, pastora há cinco anos na Assembléia de Deus e também teóloga, não concorda com o fato de crianças pregando. “No meu Ministério eu não tenho criança pregando, sou contra. Esse período é de aproveitar as brincadeiras típicas da idade e esperar pelo amadurecimento”, diz ela. Para a pastora Maria a escola bíblica que a igreja oferece é “mais do que suficiente para o primeiro contato dos jovens”.
O olhar da psicóloga especializada em terapia familiar, Aldvan Figueiredo, entra em concordância com o da pastora. Ela explica que é normal entre a idade de cinco a sete anos que seja despertado o contato das crianças com a espiritualidade. “Os pais não precisam se preocupar, desde que o interesse ocorra naturalmente. Após esse período, as crianças tendem a se desligar desses assuntos.” Explica ela, mas complementa seu raciocínio explicando que o perigo está quando crianças são obrigadas a ingressar em rotinas religiosas cedo demais. “A atitude pode causar danos emocionais e afastar de vez essas crianças da religião, tornando-se um trauma na vida adulta.”
A professora de psicologia da PUC-Campinas, Rita Kather, tem uma visão mais, severa quanto ao assunto. Para ela seja artística ou religiosa, uma escolha precoce pode vir a acarretar dificuldades no interesse da criança em outras áreas. “Uma vez que essa criança começa a desempenhar bem o papel, raramente sua vida tomará outro rumo. As crianças não devem ser incentivadas a tomar decisões logo nos primeiros anos de vida. Nesta idade, nem as habilidades ainda foram totalmente desenvolvidas. A religiosidade é importante, mas esse contato da criança com o mundo religioso precisa ser suave. É nobre cultivar a religião para um mundo de paz, mas isso deve ser natural”. Defende a professora, que diz complementa falando que é raro uma criança demonstrar-e insatisfeita quando está cumprindo um papel que agrade a seus pais.
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