A igreja é um edifício retangular simples, decorado com arcos e algumas torres. Dezenas de vitrais coloridos retratam o sofrimento de Jesus Cristo, enquanto as paredes internas são pintadas de branco.
Nada de muito diferente da maioria das igrejas cristãs do mundo. A questão é que essa fica no Paquistão, país que conseguiu sua independência da Índia em 1947, justamente por causa da religião.
Os líderes do país queriam formar um Estado muçulmano liberal, onde os direitos das minorias seriam protegidos, embora a Constituição proíba um cristão de ser primeiro-ministro ou presidente. Mas os grupos islâmicos sempre dominaram o país e a liberdade religiosa é quase inexistente.
Nos últimos 10 anos, a ascensão da Al Qaeda e a militância Talibã aumentaram a perseguição aos cristãos, com atentados e tiroteios constantes. Em março deste ano, militantes mataram Shahbaz Bhatti, o único ministro cristão no governo, numa demonstração que irão continuar usando as leis de blasfêmia para perseguir os que não seguem o Islã.
Mesmo assim, a cada domingo centenas correram para a igreja,vestidos com suas melhores roupas, mas tiram os sapatos na entrada e sentam no chão, costume islâmico adotado por algumas igrejas do país. Eles cantam hinos ao som de um piano e um ‘dhol’, um tambor tradicional.
A pequena comunidade cristã do Paquistão conseguiu o que parecia impossível, recebeu autorização para construir uma igreja nova e um prédio anexo de três andares. Ela está localizada na maior favela do país e foi inaugurada este mês. A cidade de Karachi agora tem uma verdadeira catedral, que pode abrigar em torno de 5.000 pessoas sentadas, afinal eles não usam bancos nem cadeiras nos templos.
A igreja levou 11 meses para ser construída e custou US$ 3,8 milhões, levantados a partir de pequenas ofertas dos membros e diversas doações vindas de todo o mundo, explica Saleh Diego, que lidera a congregação.
As leis do país dificultam ao máximo a construção de templos não muçulmanos. Para ser construída, foi necessário primeiro colocar abaixo a antiga igreja que ficava naquele local, o distrito de Azam Basti, favela onde moram cerca de 15.000 cristãos.
“Havia tantas pessoas aqui que não era mais possível acomodá-los aos domingos. Alguns ficavam sentados na parte de trás, alguns em pé, algumas do lado de fora”, lembra Diego. ”Agora todos nós, cerca de 5.000 pessoas, podemos orar e adorar o Senhor juntos, e realmente compartilhar e fortalecer a nossa fé.”
Em alguns países predominantemente muçulmanos, como Egito e Indonésia, a construção de novas igrejas pode desencadear tensões e até mesmo violência, mas no Paquistão ainda não há sinais de violência contra o prédio novo.
“Nós tivemos alguma oposição no início”, disse um missionário que vive legalmente e trabalha no Paquistão há muitos anos. Ele se recusou a dar seu nome por razões de segurança. ”Se colocarmos uma cruz grande podemos esperar que os habitantes locais nos criem alguns problemas. Por isso, precisamos ir com calma”.
No Paquistão, os cristãos são cerca de 5% da população de 180 milhões de pessoas. Tendem a viver em guetos de extrema pobreza, muitas vezes separados de seus vizinhos muçulmanos por muros altos. Os cristãos do Paquistão enfrentam problemas bem específicos. A maioria é descendente de hindus que se converteram ao cristianismo. Eles ainda fazem o mesmo trabalho de seus antepassados: varrem as ruas, são empregadas domésticas ou fazem algum trabalho braçal.
Por causa da perseguição, há poucas diferenças entre católicos romanos e protestantes. Em alguns casos, eles compartilham os mesmos espações de adoração. Uma igreja como essa, com cinco mil lugares é realmente uma bênção para a comunidade cristã local. É uma vitória e um sinal da resistência de uma fé que há muito sofre diariamente a discriminação.
Saleh Diego, um dos sacerdotes cristãos do lugar, se preocupa com o radicalismo crescente, mas explica: “A perseguição faz parte do cristianismo. Então, somos fiéis na perseguição e permanecemos fiéis mesmo em meio ao sofrimento”.
Traduzido e Adaptado por Gospel Prime de Washington Post
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