Nem toda teimosia é maléfica e eticamente incorreta. Há uma teimosia santa. É aquela que insiste em acreditar em Deus em toda e qualquer circunstância.
Não há maior triunfo do que superar pela fé um transtorno qualquer, de pequena ou longa duração, até que se enxergue a luz no fim do túnel. Além de ser benéfica, essa modalidade de teimosia é uma virtude rara.
Veja-se, por exemplo, a teimosia do profeta Habacuque: “Ainda que as figueiras não produzam frutas, e as parreiras não dêem uvas; ainda que não haja azeitonas para apanhar nem trigo para colher; ainda que não haja mais ovelhas nos campos nem gado nos currais, mesmo assim eu darei graças ao Deus Eterno e louvarei a Deus, o meu Senhor” (Hc 3.17-18, BLH).
Veja-se também a conhecida e magistral teimosia do salmista: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque Tu estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam” (Sl 23.4).
A expressão “ainda que” ou “ainda quando”, usada por Habacuque e por Davi, é muito enfática. Ela quer dizer que mesmo havendo alguma tragédia, grande ou pequena, isso não pode nem deve perturbar a paz daquele que está firmado no Senhor.
Aquele que é possuído por essa santa teimosia é capaz de adorar a Deus nos momentos humanamente menos indicados.
Depois de perder todos os seus bens e os dez filhos, “Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a cabeça e lançou-se em terra e adorou; e disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!” (Jó 1.20-21).
A teimosia do homem da terra de Uz era em razão de sua certeza:“Eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra” (Jó 19.25).
O rei Davi comportou-se da mesma maneira: depois da morte do filho, ele “se levantou da terra, lavou-se, ungiu-se, mudou de vestes, entrou na Casa do Senhor e adorou” (2 Sm 12.20).
Há certas passagens por demais apertadas pelas quais só conseguiremos passar de cabeça erguida se formos realmente teimosos na fé.
É como explica o salmista: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares; ainda que as águas tumultuem e espumejem e na sua fúria os montes se estremeçam”. (Sl 46.1-3.)
Retirado de Pastorais para o Terceiro Milênio (Editora Ultimato 2000)
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