A oração é um momento único entre o ser criado e seu Criador que tem se tornado escasso hoje em dia. É hora de o cristão refletir sobre como tem sido sua intimidade com Deus.
Há um obituário bem-humorado que circula pela internet com a seguinte notícia: “Faleceu, na Igreja dos Negligentes, a saudosa ‘Reunião de Oração’, que já estava enfraquecida desde os primeiros séculos da era cristã. A causa da morte: frieza de coração e dureza nos joelhos – os quais não se dobravam mais. Outros problemas que culminaram em sua morte foram desânimo, falta de tempo e boa-vontade”.
A brincadeira com o tema carrega uma profunda verdade. A prática da oração tem sido deixada de lado por muitos cristãos. E se já é difícil frequentar as reuniões para orar com os irmãos da igreja, mais ainda é encontrar tempo na agenda pessoal diária para momentos a sós com Deus. Mas se o tempo está escasso, é hora de rever as prioridades e seguir o exemplo de personagens bíblicos que, desde a Antiguidade, obtiveram vitórias de Deus porque, simplesmente, dobraram seus joelhos.
Foi através da oração silenciosa e contrita de Ana que ela recebeu Samuel como resposta de Deus. Foi a oração corajosa de Jabez que mudou a história de sua vida. Moisés venceu o impossível aos olhos humanos pelo poder da fé. Daniel foi liberto da cova dos leões. Por duas vezes, Ezequias foi abençoado em suas orações. Foram as orações de quebrantamento de Davi que o tornaram um homem segundo o coração de Deus.
Quem experimentou sabe que não existe comunhão com Deus sem a oração. “Vigiai e orai”, “Orai sem cessar”, são recomendações de peso encontradas nas Escrituras. “Clama a mim, e responder-te-ei e anunciar-te-ei coisas grandes e ocultas que ainda não sabes” (Jr 33:3).
O exemplo
Nosso maior exemplo de atitude de oração é o mestre Jesus. O desgaste físico não o impedia de orar. Ele levantou-se alta madrugada, depois de um dia intenso de trabalho, e foi para um lugar deserto para orar. Ali, ele derramou o seu coração em oração ao Pai Celeste. Jesus entendia que intimidade com o Pai devia preceder o exercício do ministério.
Cristo deu grande importância à oração. Ele mesmo orou quando foi batizado (Lc 3.21). Orou uma noite inteira antes de escolher os doze apóstolos (Lc 6.12). Ele se retirava para orar quando a multidão o procurava atrás de milagres (Lc 5.15- 17). Ele orou antes de fazer uma importante pergunta aos discípulos (Lc 9.18), e também orou no Monte da Transfiguração, quando o Pai o consolou antes de ir para a cruz (Lc 9.28). Ele orou antes de ensinar seus discípulos a “Oração do Senhor” (Lc 11.1). Jesus orou no túmulo de Lázaro (Jo 11.41-42). Orou por Pedro, antes da negação (Lc 22.32). Orou durante a instituição da Ceia (Jo 14.16; 17.1-24). Orou no Getsêmani (Mc 24.32), na cruz (Lc 23.34), e também após a ressurreição (Lc 24.30). Hoje ele está orando por nós (Rm 8.34; Hb 7.25).
Em suas orações, Jesus buscava intimidade com o Pai. Marcos registra três momentos em que Jesus preferiu o refúgio da oração: primeiro, depois do seu bem-sucedido ministério de cura em Cafarnaum, quando a multidão o procurava apenas por causa dos milagres (1.35-37); segundo, depois da multiplicação dos pães e peixes, quando a multidão queria fazê-lo rei (6.46); e terceiro, no Getsêmani, antes da sua prisão, tortura e crucificação (14.32-42).
O resgate da oração
O que não faltam são situações e instrumentos com poder de roubar o tempo e contribuir para que cada vez se ore menos. Televisão, rádio, internet, mídias sociais, trabalho intenso, estudo, família, filhos para cuidar são alguns exemplos.
O conceito e o uso do tempo mudaram bastante. Hoje as pessoas estão muito mais apressadas e escravas de suas agendas. Até Deus, o Todo Poderoso, precisa aguardar uma brecha em meio a tantos compromissos para que o cristão possa falar com Ele. Essa é mais uma prova de quanto a Era Moderna mudou o homem – que, além de ocupado, está cada vez mais cheio de si mesmo e vazio espiritualmente, por não dar ao Reino o devido valor.
Na visão do pastor Nildo Gomes, da Igreja Batista em Vale Encantado, Vila Velha, falta ao cristão reaprender não apenas a orar, mas reaprender sobre Deus. “Redescobrir o Deus das Escrituras, o Deus ensinado por Cristo em suas parábolas, e não o Deus ensinado apenas pelos teólogos. Redescobrindo a intimidade de um Deus amoroso e perdoador, redescobriremos a verdadeira oração”.
O pastor considera que muitos crentes têm-se afastado da simplicidade da fé e por isso deixam de manter uma vida de oração, de separar tempo para falar com o Pai. “Gostam de complicar as coisas, criam rituais, confiam em preces prontas ou em super-pregadores da televisão, que ‘oram’ por eles. Sem intimidade, sem aquela saudade de Deus, aquela vontade de ficar perto dEle e sentir seu amor, não há mesmo como manter uma assiduidade, uma vida de oração”.
A dependência da oração alheia vem tornando-se o vício de muitos crentes. É o que aponta o pastor Ecimar Rodrigues de Oliveira, da Igreja Presbiteriana Manancial de São Pedro I, Vitória. “Oração é meio de graça de Deus. Isso é uma conquista individual. Muitos crentes estão dependendo daqueles que têm vida de oração. Querem bênçãos de Deus a troco da oração alheia. Deus não se agrada disso, Ele quer a nossa busca, o nosso amor por Ele manifestado em atitudes”.
A jovem estagiária de Direito Simone Vaz investe no seu tempo com Deus. Gosta de tirar o período da noite para orar, especialmente as madrugadas. “Nada tira minha concentração. Aproveito o horário de almoço para orar e interceder por algumas pessoas também e, no decorrer do dia, em muitos momentos, me coloco em atitude de oração”.
Simone não abre mão do tempo com Deus mesmo tendo um dia cheio. “Muitas atividades roubam o nosso tempo. Às vezes, perdemos horas com coisas que nada nos acrescentam. Quando Deus ocupar o lugar de destaque que merece e precisa ocupar em nossa vida, grandes coisas fará por nós”.
A prática da oração
O pastor José Ronaldo Andrade, da Igreja Quadrangular da Ilha de Santa Maria, Vitória, relata que a prática constante da oração na vida das pessoas só será desenvolvida se houver um discipulado eficiente em suas vidas. “As pessoas têm orado menos, sim, mas a qualidade da oração caiu muito também. Se o crente não entender que aprender sobre Deus é determinante para ele ter uma vida de intimidade com o Senhor, dificilmente ele conseguirá praticar a oração em todos os momentos do seu dia”.
Ele destaca ainda que quando todos os discípulos de Jesus nesse tempo voltarem às raízes da igreja primitiva, nosso relacionamento com Deus mudará. “A principal característica da igreja descrita em Atos é intimidade com Deus, comunhão, o andar com Deus em tudo. Isso é conquista de uma vida aos pés do Senhor. Um povo que não ora é um povo enfraquecido e, como conseqüência, a igreja é enfraquecida também”.
Infelizmente, não apenas a oração tem sido deixada de lado, mas também o estudo da Palavra. “Temos que aprender a lidar com o pós-modernismo. Enquadrar nossa vida aos propósitos divinos, e não o contrário. Precisamos resgatar a leitura das Escrituras, que também tem sido escassa em meio à igreja moderna. Quando lemos e meditamos na Palavra, ganhamos intimidade. E isso só se conquista com comunhão. O Evangelho é individual, é relacionamento e caminhar com Deus”, falou o Pr. José Ronaldo.
“Pai Nosso”, a oração modelo
A oração que Jesus ensinou aos seus discípulos (Mt 6:9-13) é um exemplo, um modelo de como devem ser as orações. Jesus não estava ensinando palavras para serem memorizadas e repetidas, simplesmente. Ele estava ensinando o que era importante constar nas orações. O Pai Nosso tem algumas características importantes. São sete petições por bênçãos espirituais e apenas um pedido por necessidade material. Destaques:
• Reverenciar e glorificar a Deus: “Pai, santificado seja o Teu nome”.
• Buscar a vontade de Deus: “Venha o Teu reino”.
• Reconhecer a dependência de Deus para as necessidades físicas: “O pão nosso cotidiano dá-nos”.
• Reconhecer a dependência de Deus para as bênçãos espirituais: “Perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo o que nos deve. E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”.
Desperte o desejo pela oração
• Jesus ensina a orar sempre, sem desanimar (Lc 18.1).
• Não ore apenas quando precisa pedir algo. Ore pelo desejo de comunhão com Deus. Ore porque ama a Deus.
• Disciplina na oração tem a ver com disciplina na vida. Ninguém vence na vida sem disciplina. Ninguém vence na vida de oração sem disciplina.
• Disciplina na oração tem a ver com prazer. Se o crente ora pouco, é porque não tem prazer em orar. Se tem prazer na oração, busca disciplinar-se para orar mais.
• Sem disciplina, não se ora. Sem oração, começa-se a vida na dependência de Deus e pode-se terminá-la na dependência de si mesmo.
• Você terá tempo para orar quando souber, na prática, quem é o Dono do seu tempo. Se o seu tempo também estiver no altar, você viverá no altar.
• Muitos escolhem um estilo de vida e depois o condenam, como se não o tivessem escolhido.
• Reconheça a sua dificuldade em consagrar tempo para a oração e peça a Deus para moldá-lo nesta área, básica para as demais. Conheça a si mesmo. Conheça seu corpo (para identificar qual o melhor horário e qual a melhor posição para orar). Conheça sua mente (para entender o que o concentra ou dispersa).
• Elabore uma lista do que você pode deixar de fazer para ter mais tempo para o que realmente importa.
• Firme um compromisso que seja mensurável. (É vago dizer: “vou orar mais”. É preciso dizer: “vou orar todos TANTOS minutos por dia”.) Estabeleça metas diárias.
• Procure tornar a hora da oração algo agradável (como a criação de um ambiente propício, posição confortável do corpo, audição de músicas de preparação, leitura intercalada de trechos da Bíblia).
Fonte: Israel Belo de Azevedo, www.seminariodosul.com.br
“Um povo que não ora é um povo enfraquecido e, como conseqüência, a igreja é enfraquecida também”
Pr. José Ronaldo Andrade“Aproveito o horário de almoço para orar e interceder por algumas pessoas também e no decorrer do dia, em muitos momentos, me coloco em atitude de oração”
Simone Vaz“Muitos crentes gostam de complicar as coisas, criam rituais, confiam em preces prontas. Sem intimidade, vontade de ficar perto dEle, não há como manter uma assiduidade, uma vida de oração”
Pr. Nildo Gomes“As pessoas estão dependendo daqueles que têm vida de oração. Querem bênçãos de Deus a troco da oração alheia. Deus não se agrada disso, Ele quer a nossa busca, o nosso amor por Ele manifestado em atitudes”
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