Myrtes Mathias
Quando o conheci, “era jovem demais para saber amar”
E seu amor me pareceu uma forma de escravidão.
Não entendi que tudo exigia, porque tudo entregara,
Tudo queria, porque tudo me dera. E eu o traí.
Menos por maldade
Que por falta de compreensão. Esbanjei a liberdade que me deu,
Num deturpado senso de valor.
Troquei-o. Troquei-me por prazeres efêmeros, instantes de loucura que chamei de amor.
Levou muito tempo para que eu descobrisse o preço enorme que eu lhe havia custado:
Esvaziando-se de si mesmo, ele havia deixado um trono, uma coroa, a glória.
Um reino ilimitado de poder,
Para descer até onde eu me encontrava.
E, já que não pude tornar-me rei, ele despiu seu manto de púrpura e eternidade, e se cobriu
Com as roupas de um plebeu.
Calçou sandálias, e deixou que seus pés se cobrissem de pó.
Sua cabeça pendeu sob um sol que abrasava, sem o conforto de uma pedra para repousar. E, como se tudo isso não bastasse, propôs ao Pai, que uma atitude exigia, trocar sua vida pela minha. E assim eu o encontrei, só e humilhado, um simples Homem chamado Jesus, levando nos ombros uma enorme cruz. E, vendo-o receber os açoites que eu merecia, beber o cálice que eu beber devia, senti toda a vergonha de minha traição, a perversidade de cada ato meu.
Em desalinho, coração em pedaços, (que foi tudo quanto recebi daqueles pelos quais eu havia trocado) caí aos pés da cruz, onde ele agonizava em nome de seu amor por mim. E nem ousei perguntar que marcas eram aquelas, eu bem sabia a origem delas: se não me tivesse amado, se por mim não se houvesse trocado, nada daquilo lhe teria acontecido.
E eu, que julgara seu amor uma forma de escravidão, beijando o chão que seu sangue molhava, solucei: ___ Perdão! Bem sei que não podes esquecer todo o mal que, leviano, te causei: as lágrimas que te fiz chorar; esta cruz horrível em que te preguei.
Mas até o fundo abismo da minha miséria, até a lama em que eu me debatia, esquecendo a própria agonia, ele enviou um piedoso fim para uma triste história:
__ Eu já me esqueci dos teus pecados. Para os erros que são confessados, Deus não tem memória.
Ainda de joelhos, ousei abrir os olhos, para contemplar Aqueles que fitavam os meus. E descobri que: Não era um Rei que me absolvia; não era um homem que os braços me estendia. Naquele instante para todo o sempre, eu me unia a Deus!
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