Papel de parede volta de Jesus
"ENTREGA TEU CAMINHO AO SENHOR, CONFIA NELE E O MAIS ELE FARA".
SALMOS 37.5

sábado, 7 de março de 2015

A religião e o ato de questionar o inquestionável

Victor Bacelete Miranda

Sábio, intelectual e protestante holandês do século XVI, Erasmo de Roterã Erasmus Roterodamus em latim – (1466/1536), através da obra “O Elogio da Loucura” do ano 1509, formaliza relevante crítica à estrutura eclesiástica da Igreja Oficial dos séculos XV e XVI. Tal crítica ramifica-se em duas vertentes, a saber, a práxis pessoal do corpo estrutural da igreja (teólogos, padres, monges e demais membros religiosos), e a práxis religiosa do cargo ou função ocupadas/exercidas pelo mesmo.
 
Em um período de grandes transformações econômicas, sociais e científicas das casas europeias, impulsionado pelo desejo de uma profunda reforma religiosa, Roterã afirma que os teólogos de sua época são radicais e extremistas, vez que não aceitam opiniões contrárias às definições dadas pela igreja. Possuem, além disto, dogmas rígidos e discursos inteligíveis à compreensão dos mais humildes. Ressalta que entre os monges predomina a auto-suficiência, a soberba e a falta de unidade cristã. Não poupa os reverendos, pois, segundo o autor, faziam mal usa da retórica em seus sermões, os quais menos serviam para educar e provocar a reflexão cristã do que para ludibriar os mais despretensiosos. Quanto aos cortesãos escreve que “não há escravidão mais vil, mais repulsiva, mais desprezível do que aquela a que se submete essa ridícula espécie de homens”, e continua, “para eles, a maior felicidade consiste em ter a honra de falar ao rei, de chamá-lo de Senhor e prodigalizar-lhe os títulos faustosos de Vossa Majestade, Vossa Alteza Real, Vossa Serenidade, etc. etc.”. Em sua crítica, Erasmo de Roterã dispõe sobre os cardeais, destacando a ausência de conduta apostólica entre os mesmos; e não se silencia diante do “Sumo Pontífice”, que mais honra teu ego pela figura do papado do que espelha teu modo de vida no Evangelho de Jesus Cristo.
 
Por óbvio, demasiados aspectos apresentados pelo autor podem ser verificados nos seguimentos religiosos contemporâneos, fato que nos faz perceber a necessidade de uma reforma que vise reaproximar a conduta humana dos princípios da palavra de Deus. Em suma, o amor a Deus e ao próximo, de modo simples, claro e objetivo, é o que Roterã defende frente às roupagens e condutas errôneas que ainda são visíveis em nosso tempo. Menos “burocracia religiosa” e mais prática cristã!

Victor Bacelete Miranda é advogado. Pós-graduando em Teoria e Filosofia do Direito. pela PUC/MG. Mestrando em Filosofia pela Faje e graduando em Teologia pela UMSP.

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