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SALMOS 37.5

domingo, 8 de março de 2015

Muçulmana e budista: conheça as escolas de outras religiões



Monge tibetano em Lhasa, na Região Autônima do Tibete Foto: Stringer / Reuters
Monge tibetano em Lhasa, na Região Autônima do Tibete
Foto: Stringer / Reuters
Sem missa, sem cruzes na sala de aula ou santos nas prateleiras. Apesar de grande parte das escolas ligadas à religião no Brasil serem cristãs, algumas outras pelo País seguem religiões bem diferentes. Já imaginou como seria uma escola budista? Como funcionam as escolas islâmicas? E uma escola da Fé Bahá’í, conhece? OTerra conversou com representantes de algumas instituições para saber de que forma cada religião influencia - ou não - em sala de aula.

“Somos a Escola Islâmica Brasileira. Somos uma escola como as outras, porém, prezamos por valores islâmicos”, conta o Sheik Rodrigo Rodrigues, professor de ensino religioso da instituição, em São Paulo. Cerca de 400 alunos estudam lá, entre pré-escola e ensino médio. “Não ensinamos como ser muçulmano no Líbano ou no Iraque, mas dentro da realidade do Brasil”, afirma. São dois horários de oração, um antes do início da aula, pela manhã, e outro próximo ao meio-dia, na mesquita da escola. Toda a escola interrompe as atividades para a reza, mas os alunos e funcionários que não são muçulmanos ou não desejam participar, não são obrigados.
As aulas de religião tratam do islamismo, e os alunos aprendem a história, a prática e os valores do islã Foto: The Guardian / Reprodução
As aulas de religião tratam do islamismo, e os alunos aprendem a história, a prática e os valores do islã
Foto: The Guardian / Reprodução
Na merenda, nada de carne suína, proibida pela religião. “Também não permitimos ‘namorinho’ entre as nossas crianças. Isso não existe aqui na escola, pela própria natureza dos muçulmanos”, ressalta o Sheik. “Os valores vêm da família, e a escola mantém o ritmo”, acrescenta. Os alunos são encorajados a andarem sempre cobertos, conforme prega a religião, e o uso do hijab (lenço islâmico) pelas meninas e funcionárias é facultativo. Entre os professores, nem todos seguem a religião, assim como entre os alunos. O Sheik Rodrigo estima que cerca de 90% dos alunos são muçulmanos ou de origem muçulmana.
São oferecidas aulas de árabe e de religião islâmica em regime opcional. As aulas de religião tratam do islamismo, e os alunos aprendem a história, a prática e os valores do islã. “Tocamos em outras religiões para explicar diferenças, mas a cultura religiosa é explicada geralmente em outras matérias, como filosofia, na qual é feito o estudo das religiões, história e sociologia”.
Deus, religião e humanidade

Na Escola das Nações, em Brasília, a Fé Bahá’í orienta os valores da instituição. A religião surgiu na Pérsia no século 19 e chegou ao Brasil no início do século 20. Entre os principais valores estão a unidade de Deus, da religião e da humanidade. Um dos grandes pilares é o retorno do serviço à comunidade onde se vive, e isso influencia em muito o dia a dia escolar. “Um dos grandes princípios que norteiam as ações dentro da escola é o serviço à comunidade, dentro do processo de construção do conhecimento. O aluno tem que colocá-lo em prática”, comenta a professora Ana Maria Mayr, coordenadora pedagógica do programa de língua portuguesa.
Dentro da escola, os alunos precisam cumprir 60 horas de serviço voluntário. Entre os exemplos mais notáveis, Ana Maria lembra um grupo de alunos do ensino médio que nos últimos quatro anos tem dedicado as manhãs de sábado para o ensino da língua inglesa a uma comunidade próxima à escola. “A ideia é realizar ações nas quais os alunos ajam com a família e saiam dos portões da escola”, diz.
Não há aula de ensino religioso. Por ser uma instituição internacional, a Escola das Nações recebe alunos de mais de 40 nacionalidades diferentes. “Não temos a intenção de doutrinar, respeitamos as crenças de todas as religiões. A orientação que temos é a realização da oração diária, e a cada dia é feita uma oração de uma religião diferente”, explica Ana Maria.
Também são trabalhados valores da Fé Bahá’í na grade curricular. Durante uma hora-aula semanal, as virtudes da fé são trabalhadas com os alunos. Para cada etapa da educação, o programa recebe uma denominação. Para a educação infantil, são os “hábitos do coração”. Para o fundamental I, “virtudes para a vida”. Já o fundamental II trabalha com o programa de empoderamento pré-juvenil, o “pré-jovem”, e, no ensino médio, “tomando iniciativa moral”, que é totalmente baseado no trabalho voluntário.
Emoção e percepção
A Escola Caminho do Meio, de Viamão, Rio Grande do Sul, tem a filosofia budista como referência de seus ensinamentos. A escola é mantida por meio de doações e do Instituto Caminho do Meio, uma associação sem fins lucrativos. A escola foi fundada em 2008 como uma instituição de educação infantil, mas está desenvolvendo um programa de ensino fundamental para atender crianças de até nove anos. “No budismo, acreditamos que o aspecto interno, da mente, do mundo emocional, influencia na maneira como percebemos o mundo. Por isso, no cotidiano vamos ter um olhar especial para o aspecto emocional e interno, subjetivo, a começar pela própria equipe”, diz Carolina Senna, educadora da escola.
"Budismo oferece um caminho de trabalho interior pela meditação, que vai nos dar cada vez mais condições de ter autonomia frente às situações adversas e conseguir superar os estados negativos internos, diz educadora Foto: Khmer Buddhism Blog / Reprodução
"Budismo oferece um caminho de trabalho interior pela meditação, que vai nos dar cada vez mais condições de ter autonomia frente às situações adversas e conseguir superar os estados negativos internos, diz educadora
Foto: Khmer Buddhism Blog / Reprodução

se o educador é um ser humano reflexivo, que tem uma atitude de auto-observação e que busca aprender a lidar de forma cada vez mais hábil com sua própria visão e suas próprias emoções, de certa forma isso acaba sendo ensinado para as crianças por meio do exemplo”, acredita. As crianças da educação infantil podem ser convidadas a meditar, mas Carolina garante que tudo ocorre de forma bastante livre e lúdica, introduzindo aos poucos aspectos da meditação.
“O budismo oferece um caminho de trabalho interior pela meditação, que vai nos dar cada vez mais condições de ter autonomia frente às situações adversas e conseguir superar os estados negativos internos”, explica. Na educação infantil, o budismo é mais presente na formação dos educadores. No ensino fundamental, a meditação é introduzida aos poucos, de forma estruturada e de acordo com o desenvolvimento das crianças. Elas também são envolvidas em atividades de manutenção da própria escola, como cuidar das plantas e preparar os alimentos que vão consumir. Desta forma, são exercitadas e desenvolvidas qualidades prezadas pelo budismo, como a atenção e o bom coração.
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O currículo da escola é baseado em cinco projetos temáticos bimestrais. Cada projeto corresponde a uma sabedoria do budismo. Acolhimento, no primeiro bimestre; igualdade, no segundo; sabedoria investigativa, no terceiro; sabedoria da causalidade, no quarto bimestre; e, no último, a sabedoria da transcendência.
“Cada uma tem um conjunto de valores e qualidades humanas a serem mais observados e desenvolvidos. Cada sabedoria também está associada a uma estação do ano e a um elemento da natureza, que também serão olhados e vivenciados, de forma a tornar o aprendizado uma forma de abrir os olhos e olhar ao redor, para o que está acontecendo na natureza em nosso entorno”, diz.
Na Escola Caminho do Meio não há aula de religião, e nenhuma doutrina estabelecida é oferecida. Segundo Carolina, a escola busca “contemplar esse componente curricular de forma integrada no cotidiano e nos projetos, priorizando uma atitude interna de respeito a si mesmo, ao outro e a natureza, e ao mesmo tempo um respeito à diversidade cultural e religiosa”.

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