Representações religiosas ganham força no cenário político brasileiroFoto: Agência Câmara/divulgação
Religião e política são dois segmentos que se misturam desde os primórdios da história da civilização. Hoje, esta relação tem causado polêmica a partir do momento que temas contrários às doutrinas das igrejas ficam travados no Congresso Nacional, por exemplo. Um caso recente é a derrota da proposta de criação da Frente LGBT, de sugestão do deputado pernambucano Edilson Silva (Psol). O assunto foi debatido na última semana na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e negado pela maioria – 23 contra 10.
Para o historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Biu Vicente, as igrejas conservadoras têm se mostrado mais fortes no âmbito político por causa de sua necessidade de se firmar diante da sociedade. “Hoje há, sem dúvida, o fortalecimento da religião no poder. Os grupos étnicos ou religiosos começam a se organizar para se afirmar diante das decisões da sociedade. Da ditadura para cá, por volta de 1970, há claramente o crescimento das frentes mais conservadoras.”
Para o historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Biu Vicente, as igrejas conservadoras têm se mostrado mais fortes no âmbito político por causa de sua necessidade de se firmar diante da sociedade. “Hoje há, sem dúvida, o fortalecimento da religião no poder. Os grupos étnicos ou religiosos começam a se organizar para se afirmar diante das decisões da sociedade. Da ditadura para cá, por volta de 1970, há claramente o crescimento das frentes mais conservadoras.”
"Temos que aceitar que é muito difícil separar a influência da igreja na política", Michel Zaidan, cientista políticoDesta forma, se em épocas passadas a Igreja Católica exercia forte poder em decisões políticas, agora os evangélicos estão com a bola toda. “Não existem grupos políticos que se denominem bancada espírita, católica ou de outras religiões. Hoje o grupo mais forte e que claramente defende seus interesses são os evangélicos e é por isso que se destacam no cenário”, avaliou o cientista político Michel Zaidan, coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais Partidários e da Democracia da UFPE.
Em Pernambuco, dos 45 deputados estaduais eleitos, sete são evangélicos e estão entre os cinco mais bem votados. Já no âmbito nacional, 75 deputados federais e três senadores compõem a frente “mais religiosa” do poder legislativo. Eles não são maioria, mas possuem grande influência nas votações e acabam travando temas polêmicos como casamento homoafetivo, adoção por casais homossexuais, descriminalização do aborto, legalização da maconha. “É intolerável que uma denominação religiosa seja responsável por determinar como será o comportamento dentro das casas das pessoas”, rebateu Zaidan.
Arte: NE10
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Por outro lado, a bancada evangélica busca aprovar assuntos de seu interesse. É o caso do projeto que pretende alterar o ensino em todas as escolas públicas e privadas do País para incluir a doutrina criacionista nas aulas (na qual Deus criou a vida e todas as espécies), e assim disputar espaço com a teoria da evolução proposta por Charles Darwin (todo ser vivo descende de um ancestral comum).
Na opinião de Michel Zaidan, esse poder adquirido pelos deputados e senadores evangélicos é uma ameaça à laicidade do Estado. “Um estado é laico quando é imparcial em relação às questões gerais, não apoiando nem se opondo a nenhuma religião. Se temas são aprovados, ou não, com base no que diz a bíblia, por exemplo, esse conceito fica prejudicado”, explicou o cientista político. Ele ainda critica o posicionamento conservador dos parlamentares da bancada evangélica: “O que mais avança no Brasil são as igrejas neopentecostais, que são as mais fundamentalistas, conservadoras e atrasadas. É claro que isso termina se transformando numa influência negativa nas instituições políticas brasileiras.”
O fortalecimento da bancada evangélica acompanha o crescimento da comunidade protestante no País. Dados do Censo Brasil 2010, último realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), mostra aumento no número de pessoas que se denominam evangélicas. Em 2000, 15,4% da população se encaixava neste segmento religioso, contra 22,2% em 2010. Na contramão, os católicos diminuíram entre 2000 e 2010, saindo de 73,6% para 64,6%.
Arte: NE10
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“Com a proliferação das igrejas, principalmente aquelas que seguem a teologia da prosperidade, elas querem tomar para si parte do poder. Atentos a isso, os partidos políticos buscam esses candidatos de olho nos votos, mas poucos querem saber quais os preceitos a serem seguidos. Ao chegar ao poder, os religiosos, por sua vez, afastam-se dos partidos e buscam decisões que beneficiem os interesses de seus grupos”, analisou o historiador Biu Vivente sobre como os religiosos ganham poder com a política.
Defensor da forte presença evangélica na política, o historiador e teólogo Esdras Cabral alega que as pessoas têm acreditado nos políticos evangélicos porque acreditam neles. “Hoje o grande fenômeno é a igreja evangélica, que cresceu assustadoramente e tem um grande trabalho na sociedade. As pessoas creditaram nela uma confiança não só na área religiosa, mas também na área política”, avaliou o estudioso. Para o pastor e historiador, o crescimento da ala protestante é um movimento que não deve enfraquecer. Segundo ele, esse fôlego foi tomado a partir do momento que leis que “feriam as escrituras sagradas” foram criadas [como a união estável entre pessoas do mesmo sexo], criando na classe evangélica a necessidade de ser ouvida e representada na política.
Ao analisar projetos, o posicionamento evangélico, claro, passa pelo preceito bíblico, que é atemporal, mas também pela questão da atualidade Esdras Cabral, teólogo e historiadorSobre as críticas enfrentadas, o teólogo alerta que algumas delas não são bem fundamentadas. Esdras Cabral nega que os políticos e eleitores evangélicos sejam ultrapassados ou alienados e que afirma que os escritos bíblicos não têm prazo de validade, devendo ser consultados sempre que necessário. “As pessoas às vezes fazem críticas e não conhecem a fundo. Os neopentecostais não são fundamentalistas. Na verdade, ela [a igreja] não compactua com projetos de lei que ferem o princípio bíblico, como a criação da frente LGBT. Não é intolerância, só não tem como beneficiar esse grupo, porque isso fere os preceitos bíblicos”, rebateu o teólogo.
HISTÓRIA - Para se ter ideia de quão antiga é essa relação política x religião basta olhar para a história do Egito (3100 a.C) quando as pessoas cultuavam os faraós como deuses. Dando um pulo nessa linha do tempo chegamos à idade média, entre os anos 476 d.C e 1453 d.C. Naquela época a Igreja Católica exercia forte poder nas decisões dos reis europeus. Também foi nesta fase da história que o catolicismo perdeu parte dos seus fiéis, o protestantismo foi iniciado, e o conceito do estado Laico criado. “É impossível entender o valor da democracia sem levar em consideração a influência da secularidade da cultura e da ética do cristianismo. Temos que aceitar que é muito difícil separar a influência da igreja na política, por mais que se tente buscar o fundamento laico e profano para a política”, pontuou o cientista político Michel Zaidan.
PROLIFERAÇÃO DAS IGREJAS – Um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) apontou que, apenas em 2013, cerca de 12 novas igrejas foram abertas por dia no Brasil. Já uma estimativa do ministério Servindo aos Pastores e Líderes (SEPAL), os evangélicos poderão ser mais da metade da população brasileira em 2020. Essas perspectivas são apoiadas em dados recentes levantados pela Receita Federal em 2014 apontando que, diariamente, as igrejas brasileiras arrecadam R$ 60 milhões, num total de R$21,5 bilhões por ano.
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