Em seu ministério doutrinário, Jesus usou fortemente a parábola como recurso didático. Baseando-se em fatos diários e cenas naturais com que estavam familiarizados os seus ouvintes, o Mestre divino compunha breves narrativas para veicular, pelo caminho da analogia, os seus ensinos. A propósito, a analogia, o símile, isto é, os procedimentos de comparação por semelhança, foram sistemática e amplamente empregados pelos profetas do Antigo Testamento. Queixando-se das agruras de sua função, o profeta Ezequiel assim se expressou: "Ah! Senhor Jeová! eles dizem de mim: Não é este um dizedor de parábolas?" (Ez 20.49). Por intermédio de Oseias, Deus disse: “E falarei aos profetas, e multiplicarei a visão, e pelo ministério dos profetas proporei símiles" (Oz 2.10).
É importante saber-se que a forma parabólica de profetizar, empregada pelos profetas antigos, era constituída de dois momentos: o da encenação real, em que o profeta, posto como um sinal no meio do povo, vivenciava situações simbólicas; e o da verbalização, em que ele explicava o que fora dito por meio da linguagem silenciosa e instigante da ação e do gesto. Ilustremos esse processo de enunciação parabólica com uma passagem do profeta Jeremias (Jer 13.1-11). No primeiro momento, o da encenação, Jeremias, comandado por Deus, compra um cinto de linho e se cinge com ele, cuidando para não molhá-lo. Algum tempo depois, vai ao Eufrates e o esconde na fenda de uma rocha. Ao cabo de muitos dias, Jeremias retorna ao Eufrates e retoma o cinto que ali escondera. Constata que ele se "tinha apodrecido, e para nada prestava".
Segue-se, a isso, o momento da verbalização explicitadora: "Então veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Assim diz o Senhor:Do mesmo modo farei apodrecer a soberba de Judá, e a muita soberba de Jerusalém. Este povo maligno que se recusa a ouvir as minhas palavras, que caminha segundo o propósito do seu coração [...] será tal como este cinto que para nada presta. Porque como o cinto está ligado aos lombos do homem, assim eu liguei a mim toda a casa de Israel".
Consideremos: se a interpretação verbal – no caso, a explicação dada por Deus às ações simbólicas do seu porta-voz (nabhi) – não tivesse acontecido logo após a conclusão do processo alegórico vivenciado por este,seria fácil ou, mesmo, possível entender-se todo aquele estranho comportamento de Jeremias? Certamente, não. E a reação do receptor - espectador ou leitor de tal comunicação - seria, sem dúvida, a de desprezivo repúdio ao profeta: "Um excêntrico! Um louco!"
Aí está! O episódio da figueira amaldiçoada, registrado pelo evangelista Marcos, é exatamente o primeiro momento de uma mensagem profética por via parabólica. É o momento da encenação real, dentro do modelo antigo, aí retomado por Jesus. Conquanto sendo o unigênito Filho de Deus, Jesus, em seu ministério terreno, agiu como o Profeta Maior do Altíssimo, humanamente semelhante a Moisés (Dt 18.15).
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