Na verdade, a maldição que recaiu sobre a figueira-planta nada mais foi do que um ato profético de Cristo, prenunciando a maldição que a própria figueira-nação invocaria sobre si, pressionando Pilatos a mandar crucificá-lo: "E, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue [o de Jesus Cristo] caia sobre nós e sobre os nossos filhos"(Mt 27.25).
Foi prevendo as gravíssimas consequências disso, que Jesus chorou, profética e literalmente, clamando:"Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas e tu não quiseste! Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta" (id., ibid.,23:37).
Cerca de quarenta anos após esse lamento do Salvador rejeitado, começou o processo de esvaziamento da "casa de Israel", com a invasão de Jerusalém pelo General Tito, em 70 d.C. A figueira que se amaldiçoara começava a secar-se. Veja-se que, entre o ato simbólico-profético da maldição (realizado por Jesus), seu proferimento real (feito pelos judeus) e sua efetivação (executada por Tito), transcorreu um tempo de condescendência, em que teve continuidade a insistência do livramento de Deus, por meio da Igreja nascente.
Usados pelo Espírito Santo, o "vinhateiro", que buscava "escavar" e "estercar" a "figueira estéril", os apóstolos instaram com Israel, até ao ponto de exaurir-se a paciência do "Dono" da vinha. Foi então que Paulo declarou:"Era mister que a vós [judeus] se pregasse primeiro a palavra de Deus; mas visto que a rejeitais e não vos julgais dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios" (At 13.46). E aí se cumpre certo pronunciamento de Cristo a Israel, enfeixando a parábola sobre os lavradores maus: "Portanto vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos" (Mt 21.43).
Em suma: ao dirigir-se à figueira sem frutos (fato que Ele sobejamente conhecia), Jesus empreendia uma caminhada simbólica: dirigia-se a Israel, figueira metafórica que só tinha folhas, ou seja, só aparência de espiritualidade, mas não tinha os frutos de arrependimento que João Batista a havia exortado a produzir."Dizia ele [o Batista], pois, às multidões que saíam para serem batizadas: “Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos de arrependimento[...]. E também já esta posto o machado à raiz das árvores; toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo" (Lc 3.7-9).
Assim, Jesus Cristo, como os profetas da antiga dispensação, usou uma situação material, para sugerir, com a força da concretude, uma situação espiritual de seriíssimo relevo. Donde se entende: não era tempo de figos, ou seja, de frutos naturais da figueira como árvore, mas era Tempo de frutos da figueira como Nação. Coerentemente, Ele os vinha admoestando: "E dizia [Jesus] à multidão: Quando vedes a nuvem que vem do ocidente, logo dizeis: Lá vem chuva, e assim sucede. E quando assopra o sul, dizeis: Haverá calma; e assim sucede. Hipócritas, sabeis discernir a face da terra e do céu, como não sabeis discernir este tempo?" (Lc12.54-56).
Observe-se como o Mestre insiste no uso da metáfora, para mostrar a superioridade do Tempo espiritual (tempo de se produzirem frutos de arrependimento pela aceitação da sua Mensagem, Verbo divino encarnado em seu Ser), sobre o tempo natural (tempo de não se produzirem figos): "Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: Levantai os vossos olhos e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa" (Jo 4:45).
Conclusão: Jesus Cristo não cometeu a injustiça de amaldiçoar a figueira (percepção operada em nível anagógico, isto é, no elevado nível de significação depreensível do texto de Marcos, inserido no macrocontexto bíblico); pelo contrário, tendo feito tudo para salvá-la, sofreu a injustiça de ser rejeitado por ela que, para e por isso, se amaldiçoou a si mesma. E se extinguiu, por longo tempo, como nação. Até que renasceu, "rebrotou", cumprindo-se outro vaticínio parabólico do mesmo Jesus, mensagem construída também com a imagem metafórica da figueira: "Aprendei, pois, a parábola da figueira:quando já seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes todas estas coisas [aflições dos últimos dias] acontecerem, sabei que ele [o Filho do homem, o próprio] está próximo às portas" (Mt 24.32-33).
Com efeito, o renascimento da nação judaica aconteceu em 14 de maio de 1948, quando, em assembleia geral da ONU, presidida pelo então embaixador brasileiro Oswaldo Aranha, oficializou-se a existência do estado judeu, com o nome de Medinat Israel (Estado de Israel), cumprindo-se maravilhosamente uma predição do profeta Isaías (Is 66.8), com quase três mil anos de antecedência: "Quem jamais ouviu tal coisa? Quem viu coisas semelhantes? Poder-se-ia fazer nascer uma terra num só dia? Nasceria uma nação de uma só vez? Mas Sião esteve de parto e já deu à luz seus filhos".
Amigos,entendei, pois, as parábolas da figueira!
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