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domingo, 23 de dezembro de 2012

Religião-Vaticano: Papa critica casamento gay e fala em aliança de religiões



SÃO PAULO, SP, 21 de dezembro (Folhapress) - O papa Bento 16 se mostrou combativo hoje ao convocar os católicos para "lutar" contra o casamento gay, em um contexto de mobilização da Igreja em todos os grandes debates da sociedade.

Em seu discurso de fim de ano à Cúria Romana, o governo central da Igreja, o papa criticou duramente as novas concepções da família que não se baseiam na união entre um homem e uma mulher e afirmou que "na luta pela família está em jogo a essência do ser humano".

Sem citar a palavra homossexual e sem fazer julgamento direto sobre a homossexualidade, ele atacou claramente a legalização do casamento gay e a adoção por esses casais na França, Estados Unidos e em outros países.

A posição do Vaticano sobre o casamento homossexual não mudou, mas o tom endureceu.

No momento em que os países ocidentais adotam reformas sobre o casamento homossexual, o "Ano da Fé", lançado em outubro pelo papa, parece ser a ocasião de combate sobre essas questões morais.

Alguns movimentos católicos organizaram uma grande manifestação contra o casamento gay na França em 18 de novembro. Uma outra manifestação nacional está prevista para 13 de janeiro.

Os representantes das grandes religiões da França (católica, islâmica, protestante, judaica), criticaram o projeto do governo francês, mas insistiram na natureza específica de seus argumentos.

Bento 16, em uma rara mensagem publicada ontem no "Financial Times", convidou os cristãos a se engajarem nas áreas da justiça, da paz, da vida e da família. 

Segundo o papa, os cristãos devem ser coerentes com a fé católica, disse, citando os políticos que são encarregados de votar a favor ou contra os projetos de lei de um governo. 

Ele propôs uma "aliança" entre fiéis de diversas religiões e ateus sobre os temas essenciais de defesa da justiça, da paz, da família e da vida, que seria possível em razão de serem "leis naturais" as quais todos podem aderir.

Em virtude desta lógica, ele citou longamente, e de maneira inédita, o grande rabino da França, Gilles Bernheim, muito crítico ao projeto de legalizar o casamento e a adoção para os homossexuais.

O papa elogiou o trabalho do rabino Bernheim, que demonstra que "atentar contra a autêntica forma da família, constituída por um pai, uma mãe e uma criança (...) coloca em jogo a própria visão do ser humano."

"Se até o momento percebíamos como a causa da crise da família a incompreensão sobre a essência da liberdade humana, agora está claro que o que está em jogo é a própria visão do ser humano, o que significa em realidade o fato de ser uma pessoa humana", observou Bento 16.

"A criança perdeu a posição a que pertencia até o momento e a dignidade particular que lhe é própria', prosseguiu o papa. "Bernheim mostra como, de sujeito jurídico independente em si mesmo, ele se transforma necessariamente em um objeto, que é e tem o direito, e como um objeto de direito, pode ser obtido.'

Com a rejeição do casamento tradicional, acrescentou, "desaparecem as figuras fundamentais da existência humana: o pai, a mãe, o filho: as dimensões essenciais da experiência de ser uma pessoa humana estão desabando'.

Neste discurso, no qual costuma explicar as principais preocupações da Igreja Católica, o Papa lamentou a "profunda falsidade" dos estudos de gênero que consideram que o sexo de uma pessoa é determinado, na realidade, pela sociedade e educação.

O papa insistiu que a "luta" pacífica que ele convocou ultrapassa as fronteiras da Igreja: os princípios que ela defende "não são verdades de fé, estão inscritas na própria natureza humana, identificável pela razão, e, portanto, comum a toda a humanidade", seja no casamento, no começo e fim da vida e na bioética, afirmou o Papa. "Sua transformação causará "prejuízo grave para a justiça e a paz", acrescentou.

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