“Porque está escrito: Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pedro 1:16).
A santidade do Deus Eterno é a mais difícil de explicar de todos os atributos do Deus Eterno, em parte porque é um dos Seus atributos essenciais que não é compartilhado pelo homem. Fomos criados à imagem de Deus e compartilhamos muitos dos seus atributos, obviamente em um grau muito menor – amor, misericórdia, fidelidade, etc. Entretanto, alguns dos atributos do Eterno Deus nunca serão compartilhados por seres criados — onipresença, onisciência, onipotência e santidade. A santidade do Senhor Deus é o que o separa e distingue de todos os outros seres. A santidade do Senhor Deus é mais do que Sua perfeição ou pureza sem pecado; é a essência de Sua “alteridade” — Sua transcendência. A santidade do Senhor Deus encarna o mistério da Sua grandiosidade e nos faz olhar para Ele com assombro quando começamos a compreender um pouco da Sua majestade.
O Profeta Isaías foi testemunha de primeira mão da santidade do Deus Eterno em Sua visão descrita em Isaías 6. Apesar de Isaías ser um profeta de Deus e um homem justo, sua reação à visão da santidade do Senhor Deus foi estar consciente dos seus próprios pecados e desesperar-se por sua vida (Isaías 6:5). Até mesmo os anjos na presença do Eterno Deus, aqueles que estavam clamando “Santo, Santo, Santo é o Senhor Todo Poderoso”, cobriram seus rostos e pés com quatro de suas seis asas. Cobrir o rosto e os pés sem dúvida denota a reverência e temor inspirados pela presença imediata do Eterno Deus (Êxodo 3:4-5). Os serafins estavam cobertos, como se tentando ocultar-se o tanto quanto possível, em reconhecimento da sua indignidade na presença do Santo. E se o serafim santo e puro exibe tanta reverência na presença do Senhor Deus, quanto maior o respeito que devemos ter, criaturas poluídas e pecaminosas como nós, ao tentarmos aproximarmo-nos dEle! A reverência mostrada ao Senhor Deus pelos anjos deve nos lembrar de nossa própria presunção quando nos apressamos em Sua presença irreverentemente e impensadamente, como frequentemente fazemos porque não entendemos a Sua santidade.
Paralelamente a visão do Apóstolo João do trono do Deus Eterno em Apocalipse 4 foi semelhante à de Isaías. Novamente, havia criaturas viventes ao redor do trono proclamando: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus Todo Poderoso” (Apocalipse 4:8), em reverência e temor ao Santo. O Apóstolo João prossegue descrevendo estas criaturas dando glória, honra e reverência ao Deus Eterno continuamente em torno do Seu trono. Curiosamente, a reação de João à visão do Senhor Deus em Seu trono é diferente da de Isaías. Não há registro de João caindo em terror e consciência do seu próprio estado pecaminoso, talvez porque João já tinha encontrado o Cristo Ressurreto no começo da sua visão (Apocalipse 1:17). O Senhor Jesus Cristo tinha colocado a Sua mão sobre João e dito a ele para não ter medo. Da mesma forma, podemos nos aproximar do trono da graça se tivermos a mão de Cristo sobre nós na forma da sua justiça, a qual foi trocada pelo nosso pecado na cruz do calvário (2 Coríntios 5:21).
O que significa santidade?
A palavra santo (no grego hágios; no hebraico kadosh), significa separado (sagrado), outro, outra coisa. Ser santo, literalmente, é ser separado pelo Eterno Deus e para o Senhor Deus, é ser uma outra “coisa”, diferente do mundo que nos rodeia. Por isso mesmo, o sentido moral da palavra não pode ser esquecido.
Santificar é tornar santo. A vontade do Eterno Deus para a sua vida é que você seja santo (Lv 19, 2 / 1 Pd 1, 16 / Hb 12, 14). O eleito foi ressuscitado com Cristo e vive a vida nova em Cristo. Mas a santidade não nos isola do convívio social, ao contrário: deve ser demonstrada no dia a dia e nos relacionamentos cotidianos (1 Pd 1, 15-17). É necessário viver na prática essa nova vida em Cristo (Rm 6, 4)! Não basta despojar-se do “velho homem”; é essencial vestir-se do novo (Ef 4, 22-24). Santificação é viver de acordo com esta nova vida que recebemos.
Cultivar a santidade é o processo de ir crescendo em sabedoria e graça, diante do Senhor Deus e dos homens (Lc 2, 40), assim como o Senhor Jesus em Nazaré, chegando à maturidade de Cristo (Ef 4,13), capaz de tomar decisões prudentes, sábias, iluminadas e resistir ao adversário e não cometer pecado (transgressão da Lei – Os 10 Mandamentos) ao longo da vida.
Santidade é, mesmo com o coração queimando, perdoar, “deixar para lá”; mesmo com o corpo cansado, prestar serviços conforme as suas capacidades, para o bem de todos, pois a caridade (amor) tudo crê, espera, sofre (1Cor 13,4-7). Santidade é ter o coração voltado para o Coração de Cristo, por uma sintonia interior, Dom do próprio Deus Eterno, como escreveu o Apóstolo Paulo: “Tende os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (Fl 2, 5).
De acordo com as Escrituras, a palavra “santificação” tem mais um sentido. O Apóstolo Paulo ora em 1 Tessalonicenses 5:23: “Que o próprio Deus da paz os santifique inteiramente. Que todo o espírito, alma e corpo de vocês seja conservado irrepreensível na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” Paulo também escreve em Colossenses da “esperança que lhes está reservada nos céus, a respeito da qual vocês ouviram por meio da palavra da verdade, o evangelho” (Colossenses 1:5). Logo depois, ele fala do próprio Cristo como “a esperança da glória” (Colossenses 1:27) e então menciona o fato dessa esperança quando diz: “Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês também serão manifestados com ele em glória” (Colossenses 3:4). Este estado glorificado será a nossa separação definitiva do pecado, ou seja, alcançaremos a santificação total em todos os aspectos. “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (1 João 3:2).
Para resumir, a santificação é sinônimo de santidade, a palavra grega para ambas significa “uma separação”, de primeira uma separação posicional de uma vez por todas a Cristo em nossa salvação; em segundo lugar, uma santidade prática progressiva na vida de um servo fiel enquanto aguarda o retorno do Senhor Jesus Cristo e, finalmente, uma separação permanente do pecado.
A santificação do homem de acordo com as Escrituras
Uma análise do conceito bíblico sobre como ser santo…
O que leva à santificação? A oração? A penitência? O jejum? A leitura da Bíblia? A adoração? A obediência? É possível ser santo, hoje?
Podemos ser santos por favor divino ou através dos nossos esforços e boas obras? Será que algum ser humano neste mundo é capaz de ser perfeitamente santo? Isso pode parecer impossível, mas no Evangelho segundo Mateus, o Senhor Jesus declara: “Sede perfeitos como vosso Pai é perfeito” (Mt 5,48)…
A doutrina bíblica da santificação está intimamente ligada à doutrina da justificação e de tal maneira que muitas vezes elas chegam a ser confundidas. Tal confusão, segundo os reformadores do século XVI, era um dos principais erros da igreja Católica Apostólica Romana que até hoje ensina que se nos tornarmos suficientes santos, acabaremos também sendo justificados. A Bíblia, porém, nos ensina exatamente o contrário: primeiramente somos justificados e disso é que resulta a nossa santificação. Em primeiro lugar, a justificação é algo que ocorre uma única vez, quando estará completa e perfeita. Ninguém é justificado mais de uma vez! Já a santificação é um longo processo que perdura desde os primeiros passos da vida com o Senhor Jesus Cristo até o momento em que morremos fisicamente. A justificação é algo que ocorre fora de nós, enquanto que a santificação é algo que tem lugar no nosso íntimo! É algo que está fora de nós. Diz respeito ao nosso relacionamento com a Lei (10 Mandamentos) do Eterno Deus. Ambas as questões têm a ver com dois aspectos diferentes do pecado: Todo pecado tem dois lados: O primeiro aspecto do pecado é aquilo que conhecemos por “culpa.” Ser culpado significa “ser passível de castigo”, o que nada tem a ver com os sentimentos de culpa tão fortemente ressaltados pelos psicólogos, O segundo aspecto diz respeito a algo que existe dentro de nós e que chamamos “corrupção.” A culpa é algo que está fora de nós. Diz respeito ao nosso relacionamento com a Lei do Eterno Deus, enquanto que a corrupção tem a ver com algo que está dentro de nós – a nossa natureza corrompida e pecaminosa.
O Senhor Deus trata desses dois aspectos do pecado: A questão da culpa, por meio da justificação: “CRÊ NO SENHOR JESUS E SERÁS SALVO”, ou seja, justificado. No momento em que aceitamos o Senhor Jesus Cristo como nosso único, exclusivo e suficiente salvador, o Senhor Deus nos declara não mais culpados e passamos a ser considerados justos – e isso ocorre de uma vez para sempre. Ninguém cresce na justificação: somos justificados de uma vez para sempre. Isso, porém, não é santificação, já que esta consiste na dissolução da nossa corrupção mas não mediante o imputar a justiça de Cristo a nós de uma vez por todas, mas mediante a gradual inclusão da santidade de Cristo em nós. Qualquer manifestação de santidade que se veja neste mundo, em alguém ou em alguma coisa, só existe por estar relacionada com o Senhor Deus. É que a santidade do Eterno Deus, de alguma maneira, fluiu para tal pessoa ou coisa, pois o propósito e o objetivo da santificação é tornar-nos santos aos olhos do Senhor Deus.
Quando somos justificados pela simples aceitação do Senhor Jesus Cristo como nosso Salvador, fica anulado o fato de estarmos sujeitos à punição. Somos revestidos da roupagem de Cristo – E AGORA É NECESSÁRIO QUE NOS TORNEMOS SANTOS EM NOSSO INTERIOR. Tenha sempre em mente o ensino bíblico, em Hebreus 12:14: SEGUI A PAZ A SANTIFICAÇÃO, SEM A QUAL NINGUÉM VERÁ O SENHOR.”
Observando as vidas das pessoas santas na Palavra de Deus, e estudando as biografias dos mártires ao longo dos séculos, podemos aprender com eles também; isso ajuda a entender melhor essa questão que pode parecer complicada.
O Senhor Jesus tinha muito a dizer sobre santificação em João 17. No versículo 16, o Senhor diz: “Eles não são do mundo, como eu também não sou”, e isso é antes de seu pedido: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” Santificação é um estado de separação para o Eterno Deus; todos os eleitos entram neste estado quando são nascidos do Senhor Deus: “É, porém, por iniciativa dEle que vocês estão em Cristo Jesus, o qual se tornou sabedoria de Deus para nós, isto é, justiça, santidade e redenção” (1 Coríntios 1:30). Esta é uma separação que acontece de uma vez por todas, eternamente a Deus. É uma parte intrincada da nossa salvação, a nossa ligação com Cristo (Hebreus 10:10).
A ser santo também se refere à experiência prática dessa separação para o Senhor Deus, sendo o efeito da obediência à Palavra de Deus na vida de alguém e deve ser ardentemente buscada pelos filhos do Eterno Deus (1 Pedro 1:15, Hebreus 12:14). Assim como o Senhor Jesus Cristo orou em João 17, a santificação tem em vista a separação dos eleitos para a finalidade pela qual foram enviados ao mundo: “Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo. Em favor deles eu me santifico, para que também eles sejam santificados pela verdade” (v. 18, 19). Que Ele se separou para o propósito pelo qual foi enviado é tanto a base quanto a condição do nós mesmos sermos separados para o motivo pelo qual fomos enviados (João 10:36). A santificação do Senhor Jesus Cristo é o padrão e o poder para a nossa. O envio e a santificação são inseparáveis. Por causa disso os eleitos são chamados de santos, hagioi, no grego: “os santificados”. Enquanto anteriormente o seu comportamento dava testemunho da sua posição no mundo em separação do Eterno Deus, agora o seu comportamento deve ser testemunho da sua posição diante do Senhor Deus em separação do mundo.
Portanto, nos termos das Escrituras, os “santos” são o corpo de Cristo, seus verdadeiros seguidores, a sua verdadeira Igreja. Todos os verdadeiros seguidores do Senhor Jesus Cristo são considerados santos… e ao mesmo tempo são chamados para serem santos. 1 Coríntios 1:2 diz claramente: “…à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos…” As palavras “santificados” e “santos” têm a mesma origem grega. Os cristãos são santos pela virtude da sua conexão com o Senhor Jesus Cristo. Os cristãos verdadeiros são chamados a ser santos, para cada vez mais permitir que a sua vida diária se aproxime da sua posição em Cristo Jesus. Essa é a descrição e o chamado bíblico dos santos de Deus, o Eterno.
A perseverança dos santos é condicional, portanto, sê fiel até o Fim
Apocalipse: 20:15 – E, se alguém não foi achado escrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo.
Não há menção de nenhum santo ou justo diante do Trono nesta cena. Tudo indica que este julgamento é limitado aos servos da Besta. Nenhum deles será achado no Livro da Vida, onde estão escritos os nomes dos adoradores do Senhor Deus. Os ímpios, aqueles que se submetiam à Besta, são lançados no Lago de Fogo. Participam da segunda morte. Ainda existe o Livro da Vida. Há esperança, ou melhor, há segurança para os servos fiéis que não se prostraram diante da Besta. Esta cena de julgamento diante do grande Trono Branco complementa a figura dos santos vitoriosos no início do capítulo. Se os adoradores da Besta gozavam de alguma vantagem durante um período curto nesta vida, os adoradores do Senhor Deus têm a garantia da vantagem final e eterna.
“Por meio deste evangelho vocês são salvos, desde que se apeguem firmemente à palavra que lhes preguei; caso contrário, vocês têm crido em vão” (1ª Coríntios 15:2)
A salvação final, como está implícito neste e em outros textos, é condicional ao apego firme à Palavra de Deus até o Fim. A salvação deles não era absolutamente garantida sob qualquer circunstância. Eles eram salvos e permaneceriam assim sob uma condição, o apego e disciplina à Palavra de Deus, ao Senhor Jesus Cristo. Essa condição não seria bem uma condição se a promessa da perseverança fosse incondicional. Uma condição incondicional é uma impossibilidade lógica e uma contradição de termos. A declaração faz presumir a possibilidade da falta da perseverança e da consequente perda da salvação.
O mesmo apóstolo também disse: “Mas agora Ele os reconciliou pelo corpo físico de Cristo, mediante a morte, para apresentá-los diante dEle santos, inculpáveis e livres de qualquer acusação, desde que continuem alicerçados e firmes na fé, sem se afastarem da esperança do evangelho, que vocês ouviram e que tem sido proclamado a todos os que estão debaixo do céu” (Colossenses 1.22,23)
Mais uma vez, vemos aqui o mesmo princípio que vimos no outro texto: a condicionalidade da perseverança. Seria inócua a exortação a não se afastar da esperança do evangelho se esse afastamento e consequente perdição fosse algo impossível de acontecer. Além de um desperdício de tinta, induziria que é possível que eles não ficassem alicerçados e firmes na fé até o fim. O simples fato do Apóstolo Paulo fazer ressalvas à declaração inicial de que eles eram salvos já deveria ser suficiente para mostrar que a perseverança não é incondicional.
O autor de Hebreus segue o mesmo conceito e diz: “Mas Cristo é fiel como Filho sobre a casa de Deus; e esta casa somos nós, se é que nos apegamos firmemente à confiança e à esperança da qual nos gloriamos” (Hebreus 3:6)
O Apóstolo Pedro também faz o mesmo, ao dizer: “Portanto, irmãos, empenhem-se ainda mais para consolidar o chamado e a eleição de vocês, pois se agirem dessa forma, jamais tropeçarão, e assim vocês estarão ricamente providos quando entrarem no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2ª Pedro 1:10,11)
Judas igualmente nos mostra que não basta estar no amor do Eterno Deus, é preciso se manter neste amor: “Conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna” (Judas 1:21)
A conclusão inferida destes e de outros textos semelhantes é a de que a perseverança, longe de ser incondicional, é sempre apresentada de modo a presumir que é possível que alguém não persevere, e, consequentemente, não seja salvo. Isso chamamos de perseverança condicional, pois ela depende da fé e obediência a Palavra de Deus do início ao fim, e é possível que alguém não exerça fé e obediência até o último momento, abrindo a possibilidade da salvação não ser mantida.
“Santifica-os na verdade… E por eles me santifico para que também eles sejam santificados na verdade.” (João 17.17 e 19)
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