Papel de parede volta de Jesus
"ENTREGA TEU CAMINHO AO SENHOR, CONFIA NELE E O MAIS ELE FARA".
SALMOS 37.5

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Sentido da religião

O filme “Uma Mulher Contra Hitler” de Marc Rothemund retrata, sob a perspectiva da jovem Sophie, o movimento de resistência ao Nazismo organizado por estudantes em Munique. Sophie e Hans Scholl são irmãos e pertencem a um grupo de estudantes inconformados com a situação de seu país. Da simples inconformidade, os estudantes passam para uma ação de conscientização de outros alemães.

A religião é para o brasileiro um aspecto importante de seu cotidiano. Porém, da mesma forma que o brasileiro precisa desenvolver um senso crítico em relação aos comportamentos, costumes, estruturas políticas, ele também necessita desenvolver em relação a qualquer religião uma santa criticidade. A fé não pode ser cega. Afinal, uma espiritualidade séria envolve o ser humano por inteiro: individualidade, relações interpessoais, estrutura social. Toda expressão de fé verdadeira exige discernimento, senso crítico e principalmente conhecimento. Se a fé não for acompanhada de senso crítico e conhecimento ela pode cair em enormes contradições. Esta análise crítica sobre a fé se inicia com a recuperação do significado original do fenômeno religioso. Religião significa "re-ligar", reatar algo que já esteve unido e foi rompido. Assim, religião deve ser sobretudo aproximação, convergência. Em outras palavras, a religião que gera desunião, desrespeito, isolamento, marginalização pode ser qualquer coisa, menos religião.

Principalmente para o Cristianismo isso deve estar muito claro. Afinal, a sua tradição essencial está baseada no respeito pleno ao ser humano. São João define o próprio Deus com a palavra "amor" (1 Jo 4,8) e Jesus reafirma a tradição judaica sintetizando os mandamentos da Lei em dois: no mandamento do amor a Deus (Dt. 6,5) associando-o imediatamente ao mandamento do amor ao próximo (Mt. 22, 36-40; Mc 12, 28-31; Lc 10, 25-28; Lv. 19, 18). Isso quer dizer que, para o Cristianismo, o amor a Deus só faz sentido se ele se traduzir no amor ao próximo, que é a pedra de toque da justiça. Porém, este amor bíblico não é simplesmente o amor erótico ou o amor que surge da simpatia, mas fundamentalmente o "agapé", ou seja, o respeito profundo pelo outro e um engajado interesse por sua felicidade. 

Não é pelo cumprimento de preceitos cerimoniais ou cultuais que se honra a Deus, mas pelo socorro que se dá ao ser humano na necessidade (Mt 12, 1-8; Mc 2, 23-28; Lc 6, 1-5; 13, 10-17). Nós seremos julgados pelo grau de respeito que possuímos para com o nosso próximo, sobretudo para com o menor de todos (Mt. 26, 31-46) e para com os inimigos (Mt 5, 42-48; Lc 6, 27-35). O Cristo chega a ridicularizar com a parábola do "Bom Samaritano" (Lc 10, 29-37) e aqueles religiosos que seguiam os preceitos e não praticavam o amor. Nesta parábola, um pagão demonstra mais amor que um sacerdote e um levita. Santo Irineu afirmou que Deus se fez como nós para que possamos nos tornar como Ele. 

Portanto, religião deve ser um processo de deificação do ser humano, caso contrário, é algo perigoso, instrumento de escravidão, exploração ou alienação. Louvar a Deus, portanto, não pode significar um viver pequeno-burguês em uma sociedade na qual a maioria está desprovida de educação, saúde, emprego, enfim, da dignidade como pessoas humanas. Que neste Natal todos nós possamos cultivar o amor que possuímos e que o mundo se torne melhor através de nossas atitudes. 

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