Qual é a explicação científica para o dia prolongado de Josué 10.12-14?

O livro de Josué registra vários milagres. Nenhum deles, contudo, é tão digno de nota nem tão discutido quanto o que se refere a um dia prolongado, com o dobro das 24 horas normais. Foi o da batalha de Gibeom (10.12-14). Tem-se objetado que, se de fato a Terra houvesse parado de girar por 24 horas, uma catástrofe inconcebível teria esmagado o planeta e tudo que estivesse em sua superfície. Os que crêem na onipotência de Deus de modo nenhum concordam com a idéia de que Iavé não teria impedido a tragédia; o Senhor teria suspendido as leis físicas que provocariam o desastre. No entanto, com base no próprio texto hebraico, não nos parece necessário crer que a Terra subitamente tenha parado, deixando de executar o movimento de rotação sobre si mesma. Assim diz o versículo13: “O sol parou no meio do céu e por quase um dia inteiro não se pôs”. A frase “não se apressou”(RA) parece indicar um retardamento do movimento solar (ou seja, da rotação da Terra). Em vez de 24 horas, o dia teria tido quase 48.
Há apoio para essa idéia: pesquisas trouxeram à luz relatos de fontes egípcias, chinesas e hindus a respeito de um dia muito longo. Harry Rimmer relata que alguns cientistas astrônomos chegaram à conclusão de que está faltando um dia inteiro no cálculo astronômico. Declara Rimmer que alguns cientistas do Observatório de Harvard traçaram a origem desse dia que falta aos tempos de Josué. De semelhante modo se pronuncia Totten, de Yale (cf. Bernard Ramm, The Christian view of science and Scripture [Grand Rapids, Eerdmans, 1954] p. 159). Ramm informa, entretanto, que não conseguiu documentar esse relatório, possivelmente porque essas universidades preferiam não manter em arquivo esse tipo de relatório.
Outra possibilidade de interpretação decorre de um entendimento um tanto diferente da palavra dôm (traduzida por KJV por “mantém-te quieto”). É vocábulo que normalmente se traduz por “estar em silêncio”, “cessar” ou “partir”. E. W. Maunders, de Greenwich e Robert Dick Wilson, de Princeton, interpretaram a oração de Josué como petição no sentido de o Sol cessar de derramar seu calor sobre suas tropas em batalha, de tal modo que pudessem prosseguir lutando sob condições mais favoráveis. A tempestade destruidora, de granizo, que acompanhou a batalha, dá alguma credibilidade a essa opinião, a qual tem sido defendida por homens de inquestionável ortodoxia. No entanto, é preciso que se admita que o versículo 13 parece favorecer o prolongamento do dia: “O sol parou, e a lua se deteve, [...] O sol parou no meio do céu e por quase um dia inteiro não se pós”(ARA).
Keil e Delitzsch (Joshua, Judges, Ruth, p. 110) sugerem que ocorreu um prolongamento miraculoso do dia, de modo que apenas apareceu a Josué e a todo o Israel que ele se prolongou de fato. O exército conseguiu fazer em um dia o trabalho de dois. Teria sido difícil para eles dizer se a Terra estava girando à velocidade normal se a rotação fosse o único critério para a medida do tempo. Eles acrescentam outra possibilidade: Deus poderia ter produzido um prolongamento da luz solar, tendo prosseguido a visibilidade após a hora normal do crepúsculo, mediante uma refração especial dos raios solares.
Hugh J. Blair (“Joshua”, em Guthrie, New Bible commentary, p. 244) sugere que a oração de Josué teria sido pronunciada bem cedo, de manhã, visto que a luz ainda estava no Ocidente, e o Sol, no Oriente. A resposta veio na forma de uma tempestade de granizo que prolongou a escuridão e, dessa forma, facilitou o ataque de surpresa dos israelitas. Daí, na escuridão da tempestade, a derrota do inimigo foi completa. Deveríamos, pois, falar da “longa noite” de Josué, em vez de o “longo dia”. Essa é, em essência, a opinião de Maunders e Wilson. Essa interpretação não pressupõe a parada do movimento de rotação da Terra em seu eixo, embora dificilmente se enquadre na declaração de Josué 10.13. Portanto, é uma interpretação de valor dúbio.
Extraído do livro Enciclopédia de temas bíblicos