Papel de parede volta de Jesus
"ENTREGA TEU CAMINHO AO SENHOR, CONFIA NELE E O MAIS ELE FARA".
SALMOS 37.5

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Aliança: amizade com Deus


 Alianças de Casamento e Noivado                                                                                                                                                    
 Na Bíblia, o amor de Deus por Israel manifesta-se no conceito de Aliança (berît, tratado, compromisso de amizade, sob juramento). Ao longo de toda a história de Israel, o Deus Criador e Libertador agiu como Aliado de Israel, Amigo e Companheiro, Esposo. Mas foi no episódio central da estadia do povo no deserto do Sinai, que YHWH (Adonai, o Senhor) ofereceu a Israel, de maneira solene, uma Aliança de amor. A Aliança com os patriarcas, Abraão, Isaac e Jacó, era unilateral; enfatizava a promessa de Deus (Gn 17,8). A Aliança do Sinai é bilateral; inclui a responsabilidade do povo. A iniciativa é de Deus, mas implica numa exigência de fidelidade exclusiva do povo para com YHWH. A Aliança no Sinai é o sacramento fundacional do povo escolhido. O compromisso recíproco de YHWH e Israel expressa-se na palavra hebraicahesed, que pode ser traduzida por amor, bondade, misericórdia, graça. Esta relação de amor recíproco implica uma responsabilidade mútua daqueles que pertencem um ao outro. O núcleo da fé de Israel está contido no Shemá, que o judeu piedoso reza todos os dias, de manhã e à noite: “Escuta, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6,4-5). Estas palavras não são uma fórmula estereotipada, mas um convite, sempre renovado, a estabelecer uma relação de amor com o Criador. Para o judeu piedoso, a Aliança não é uma idéia, mas uma realidade vivida no dia-a-dia. Deus elegeu Israel, gratuitamente, por puro amor: “YHWH afeiçoou-se a vós e vos escolheu, não por serdes mais numerosos que os outros povos –na verdade sois o menor de todos– mas, sim, porque YHWH vos amou e quis cumprir o juramento que fez a vossos pais” (Dt 7,7-8). E o povo de Israel sentiu que Deus estava sempre com ele”. Nas planícies de Moab, onde Moisés vai morrer, a Aliança será renovada, mais uma vez (Dt 29,1-30,20). Em Siquém, será Josué quem comande a renovação do compromisso de fidelidade do povo: “longe de nós abandonar o Senhor, para servir a deuses alheios (...) Serviremos ao Senhor nosso Deus, e obedeceremos à sua voz” (Js 24,1-28). Adotado pelo Senhor como filho (Ex 4,22-23), Israel deverá viver numa obediência e docilidade total para com Ele. Para explicitar a relação de Israel com Deus, a Sagrada Escritura usa também a imagem esponsal. No Cântico dos Cânticos, o amor humano é parábola viva do amor de Deus por seu povo. Na Encíclica Deus caritas est, Bento XVI cita duas palavras hebraicas usadas pelo Antigo Testamento, para designar o amor: dodim (=“amores“, plural de dôd = amado, amor) expressa “o amor ainda inseguro e indeterminado”, como o do jovem inexperiente e sem juízo, a quem a prostituta seduz (por exemplo, em Pr 7,18). Mas, na língua hebraica, o amor é expressado, também, com outros termos derivados do verbo aheb (= amar, gostar, apaixonar-se): ahab, ohab, ahabà. É com este amor que Deus ama Israel: “Pois que és precioso aos meus olhos, eu te aprecio e te amo...” (Is 43,4). Com tal amor, também, Israel deve amar a Deus, como uma esposa ama o seu esposo. Na tradução grega do Antigo Testamento, ahabà foi traduzido por agape, que será o termo característico da concepção cristã do amor. Nesta, escreve Bento XVI, “o amor torna-se cuidado do outro e pelo outro. Já não se busca a si próprio, não busca a imersão na embriaguez da felicidade; procura, ao invés, o bem do amado”. No Novo Testamento, a vida cristã consiste em uma Nova Aliança da humanidade com Deus, em Cristo. Por sua vida, sua paixão e sua morte, Jesus realiza a plena e definitiva Aliança de Deus, não apenas com o povo de Israel, mas com toda a humanidade. Na Última Ceia, Cristo sela uma Nova Aliança no seu sangue, que é derramado por muitos (= por todos). A carta aos Hebreus opõe a Nova à antiga Aliança, citando Jr 31,31-34. A Aliança selada com o sangue de Cristo é uma “eterna Aliança” (Hb 13,20), uma “Aliança melhor” (Hb 8,6), que anula a antiga (Hb 8,13). O ato simbólico-sacramental da Nova Aliança em Jesus é o Batismo, pelo qual um ser humano (ou seus pais, em nome dele) renuncia a tudo o que o afasta de Deus, comprometendo-se a viver inteiramente para Ele. Na confirmação (sacramento do crisma), os batizados confirmam este compromisso. No sacramento do matrimônio, os esposos se comprometem a amar-se e respeitar-se, por toda a vida, tornando-se assim sinal visível do amor de Cristo e sua Igreja. Na vida consagrada, pela profissão dos conselhos evangélicos, a pessoa se compromete, “por um novo e peculiar título” (Vaticano II), a pertencer inteiramente ao Senhor. A Aliança de amor pode ser expressada, também, com o conceito de “amizade”. Na amizade, duas pessoas se encontram e se reconhecem mutuamente como únicas, na singularidade de cada uma. Nesse reconhecimento recíproco experimenta-se o mistério da presença do outro. Ao mesmo tempo, ao revelar-se ao “tu”, o “eu” se descobre a si mesmo. Cada um de nós pode dizer ao Senhor: “eu sou aquele (ou aquela) a quem Tu amas”. A experiência humana da amizade é perfume e bálsamo, que alegra e suaviza a dureza da vida. A verdadeira amizade pode ser vista como parábola da Aliança que Deus fez com a humanidade, em Cristo Jesus. Mas para que a amizade humana seja epifania do amor de Deus, é preciso que ela não se feche em si mesma, mas permaneça aberta ao Outro e aos outros. Como todo amor verdadeiro, a Aliança ou amizade entre Deus e os seres humanos é “para sempre”. O dom que Deus nos faz em Cristo se prolonga até a vida eterna. Todavia, por ser dom, a amizade que Deus nos oferece, não se impõe, antes pede a nossa livre aceitação, porque o verdadeiro amor respeita a liberdade da pessoa amada. 
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Luís González-Quevedo

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