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domingo, 30 de novembro de 2014

Eles continuam a deixar a religião para, na maioria dos casos, se tornar protestante; levantamento foi realizado em 18 países

BBC

Pouco mais de um ano e meio após sua eleição, a aprovação do papa Francisco é alta em seu continente de origem, a América Latina. Mesmo assim, católicos continuam a deixar a religião – a maioria deles, para se tornar protestante.
AP
Papa é popular entre católicos, mas número de fieis que deixam a religião continua a crescer no continente
A conclusão é do estudo "Religião na América Latina – Mudanças difundidas em uma região historicamente católica", do instituto americano de pesquisas Pew, que mapeou as práticas religiosas em 18 países da América Latina e do Caribe, exceto Cuba.
Os resultados mostram que o número de pessoas que se declaram protestantes continua crescendo em todo o continente e que pessoas criadas no catolicismo vem deixando a religião em favor da fé propagada por igrejas evangélicas.
"Se temos hoje o primeiro papa latino-americano é principalmente por causa da competição pentecostal na América Latina. A Igreja Católica está em uma crise de pânico. Se não conseguirem parar o avanço protestante no continente, que abriga 40% dos católicos do mundo, o futuro da instituição está seriamente ameaçado", disse à BBC Brasil Andrew Chesnut, professor da Virginia Commonwealth University e um dos autores da pesquisa, divulgada nesta quinta-feira.
"O Brasil ainda tem a maior população católica do planeta, mas agora só 61% se dizem católicos. Em 2030, o país já não deverá ter uma maioria católica."
A aprovação de Francisco entre os católicos é alta: acima dos 70% deles dizem ter uma opinião favorável ao papa em todos os países onde o estudo foi feito. O número passa de 90% em países como Brasil e Colômbia e chega a 98% na Argentina, seu país de origem.
No entanto, o estudo afirma que é cedo para dizer se o papa conseguirá diminuir ou reverter o êxodo de católicos. "O papa Francisco ainda não impressionou a todos", afirma o instituto. "Os ex-católicos são mais céticos a respeito do papa. Em todos os países pesquisados, exceto na Argentina e no Uruguai, pouco menos da metade têm uma opinião favorável a ele e acham que seu papado pode significar mudança na Igreja."
"Eu suspeito que, a longo prazo, Francisco não conseguirá parar esse processo mais longo de pluralidade religiosa. Pesquisas feitas nos Estados Unidos já mostraram que, mesmo dizendo que amam o papa, os católicos não estão indo mais à missa. Se eles não se tornarem mais ativos, (gostar do papa) não significa nada para a Igreja", afirma Chesnut.
No Brasil, apenas 37% dos católicos afirmam que vão à igreja ao menos uma vez por semana, contra 76% dos protestantes. Na Argentina, terra natal de Francisco, o número cai para 15% e chega a apenas 9% no Uruguai.
O estudo indica que, além do crescimento do número de protestantes, o número de pessoas que abriram mão de qualquer filiação com uma religião organizada também aumentou na região.
A categoria, na qual estão 8% dos entrevistados na pesquisa, inclui pessoas que se descrevem como ateus, agnósticos ou sem religião. No Brasil, a porcentagem é a mesma.
O Instituto Pew é um dos mais respeitados órgãos de pesquisa independentes dos Estados Unidos. O levantamento se baseia em mais de 30 mil entrevistas realizadas entre outubro de 2013 e fevereiro de 2014 em espanhol, português e guarani.
'Ênfase na moralidade'
Atualmente, 69% dos latino-americanos se identificam como católicos, apesar de 84% afirmarem ter sido criados na religião. No Brasil, uma em cada cinco pessoas é ex-católica, segundo o Instituto Pew.
De acordo com o estudo, a maioria deles parece estar migrando para as religiões protestantes, especialmente as pentecostais e neopentecostais – como a Igreja Universal do Reino de Deus e a Renascer em Cristo. No Brasil, 54% dos atuais protestantes dizem ter sido criados como católicos. A taxa chega a 76% na Colômbia.
Perguntados a respeito das razões para a conversão, a maioria dos entrevistados afirmou que buscava "uma conexão mais pessoal com Deus". Das oito opções de resposta disponíveis, a segunda mais escolhida dizia que os fiéis "gostam mais do estilo de culto da nova igreja", a terceira, que "encontraram uma igreja que ajuda mais seus membros" e a quarta, que "queriam uma ênfase maior em moralidade".
"De um modo geral, igrejas pentecostais atraem pessoas que já têm atitudes mais conservadoras. Elas costumam ser reforçadas e até mesmo intensificadas dentro das congregações. Mesmo assim, é importante lembrar que há muita diversidade entre as denominações pentecostais. A Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, apoiou Dilma em sua reeleição", diz Chesnut.
A pesquisa afirma que mais protestantes do que católicos latino-americanos se opõem a questões como aborto e casamento gay. A diferença entre eles é pequena na maioria dos países, sobretudo em relação ao aborto.
No Brasil, a maioria dos católicos também se coloca a favor de mudanças em tradições católicas como o celibato dos padres e a proibição de que mulheres se tornem sacerdotes.
Influência pentecostal
A tentativa de tornar os rituais católicos mais atraentes e evitar a perda de fiéis também impulsionou o crescimento da corrente Renovação Carismática entre os católicos. Padres e fiéis ligados ao movimento incorporam às celebrações católicas elementos de cultos pentecostais, como música, dança, pregações contundentes e rituais de exorcismo.
"Em todos os países pesquisados, os carismáticos são grande parte da população católica. E em alguns países – Panamá, Brasil, Honduras, República Dominicana e El Salvador –, pelo menos metade dos católicos dizem ser carismáticos", afirma o estudo.
Para Andrew Chesnut, padres "superstar" brasileiros, como Marcelo Rossi e Fábio de Melo, são expoentes do poder carismático dentro da Igreja católica latina. Pelo menos 58% dos católicos brasileiros se dizem carismáticos. "Há equivalentes ao padre Marcelo Rossi em quase todos os países latino-americanos, mas nenhum é tão superstar quanto ele", diz.
"Sem o crescimento pentecostal, não haveria carismáticos ou Marcelo Rossi. É uma reação católica a esse crescimento."
A prática do exorcismo, que havia se tornado rara dentro do catolicismo, também voltou à tona por influência das igrejas neopentecostais, de acordo com o pesquisador.
"No Brasil, o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, foi o pioneiro em fazer exorcismos públicos e espetaculares, e outros o seguiram. Agora, há todo tipo de exorcismos não autorizados sendo feitos na Igreja Católica. Normalmente seria necessária a autorização de um bispo, mas entre os carismáticos há muitas mulheres leigas fazendo isso", afirma.

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