Papel de parede volta de Jesus
"ENTREGA TEU CAMINHO AO SENHOR, CONFIA NELE E O MAIS ELE FARA".
SALMOS 37.5

quinta-feira, 26 de março de 2015

Pregavam os Primitivos Cristãos de Casa em Casa?































“Espera-se da pessoa dedicada que apóie a causa do Pai, a causa da

adoração verdadeira, que pregue em honra da Palavra e do nome de

Jeová Deus, que assuma plenamente suas responsabilidades como

ministro, pregador no serviço de campo de casa em casa, e que

de outras formas participe plenamente nas atividades da sociedade

do Novo Mundo, para promover a proclamação do Reino e apoiar

a verdadeira adoração de Jeová. A pessoa dedicada tem de ser

uma Testemunha de casa em casa como foram Cristo Jesus

e os apóstolos tanto quanto lhe permita a sua capacidade, e tem

de ser de outras formas testemunha e anunciador do reino

teocrático da justiça.” (A Sentinela de 1° de julho de 1955 [em inglês],

página 409, parágrafo 10. Grifos acrescentados.)
O ensino da liderança das Testemunhas de Jeová sobre o testemunho de
casa em casa baseia-se amplamente em textos como Atos 5:42 e 20:20.
 Na Tradução do Novo Mundo,da Torre de Vigia, estes dizem:
E cada dia, no templo e de casa em casa, continuavam sem cessar a

ensinar e a declarar as boas novas a respeito do Cristo, Jesus.
Ao passo que não me refreei de vos falar coisa alguma que fosse

proveitosa, nem de vos ensinar publicamente e de casa em casa.
Deduz-se que “de casa em casa” indica atividade de porta em porta, indo 
consecutivamente de uma porta para a seguinte, uma porta após a outra, 
visitando pessoas sem convite prévio e geralmente sem conhecê-las 
de antemão. Está essa dedução necessariamente correta?
Quando a Tradução do Novo Mundo foi publicada, a organização Torre de 
Vigia concentrou a atenção na expressão grega original (kat’oikon) da qual 
vem a tradução “de casa em casa”. 

Enfatizou-se que a preposição kata 
(que significa literalmente “segundo”) é usada aqui em sentidodistributivo
Portanto, afirmou-se que a expressão “de casa em casa” tem o mesmo 
sentido de “de porta em porta”, isto é, ir de uma porta para a porta seguinte 
ao longo duma rua.
A afirmação não se sustenta quando examinada e considerada. Em primeiro
 lugar, distributivo não é o mesmo que consecutivo. Alguém pode ir de “casa 
em casa” indo de uma casa numa área para uma casa noutra área, assim 
como o médico que faz “visitas domiciliares” pode ir de lar em lar. De modo 
algum requer a idéia de visitas consecutivas de porta em porta.
A alegação de que o uso da preposição kata no sentido distributivo exige
 a tradução “de casa em casa” para estar correta e exata, é, de fato, 
desautorizada pela própria Tradução do Novo Mundo.
Poucas Testemunhas percebem que a mesma expressão (kat’oikon), traduzida
 “de casa em casa” na Tradução do Novo Mundo em Atos, capítulo 5, versículo
 42, também ocorre no capítulo 2, versículo 46. Pode-se ver abaixo
 como estes versículos aparecem na Tradução Interlinear do Reino(em inglês)
 da Torre de Vigia, que contém a Tradução do Novo Mundo na coluna da direita.
Atos 2:46
46 segundo o dia e perseverando de mentalidade comum no templo, partindo esegundo a casa pão, eles partilhavam da comida em exultação e simplicidade de coração, 47 louvando a Deus e
necessidade. 46 E dia
 após dia assistiam 
constantemente no
 templo, de comum 
acordo, tomando as 
suas refeições em
 lares particulares 
e participando do
 alimento com 
grande júbilo e
 sinceridade de coração,
 47 louvando a Deus e
Atos 5:42
porque eles foram contados dignos sobre o nome para ser desonrados; 42 todos e dia no templo e segundo a casa não eles cessavam ensinar e declara boas novas sobre o Cristo Jesus
desonrados a favor do 
nome dele. 42 E cada 
dia, no templo e de 
casa em casa
continuavam sem
 cessar a ensinar e 
a declarar as boas 
novas 
a respeito do Cristo, 
Jesus.
Como mostra o lado esquerdo da Interlinear, a mesma expressão aparece 
nos dois textos com o mesmo sentido distributivo de kata. Todavia, em 
Atos 2:46, a tradução não é “de casa em casa” e sim “em lares particulares
.” Por quê?
Como não é lógico pensar que os discípulos tomavam refeições indo duma 
casa para a outra rua abaixo, e como a liderança da Torre de Vigia pretende
 atribuir esse sentido específico à expressão “de casa em casa” (para apoiar
 sua atividade de porta em porta), ela quer evitar as perguntas que poderiam
 surgir se usasse a tradução “casa em casa” aqui. Como já dissemos, a maioria
 das Testemunhas não percebe esta troca de traduções e a Torre de Vigia
 prefere não chamar a atenção para o assunto, nem mencioná-lo abertamente.
Em Atos 20:20, a expressão aparece novamente, embora a palavra para 
”casa” ou “lares” esteja aqui no plural (kat’oikous):
Atos 20:20
conspirações dos judeus; 20 como nada eu refreei das (coisas) que trazem juntas dos não para contar a VÓS e ensinar a VÓS ao [lugar público] e segundo as casas.
20 ao passo que não 
me refreei de vos
 falar coisa alguma
 que fosse proveitosa
 nem de vos ensinar
 publicamente e de 
casa em casa.
Mais uma vez, cabe simplesmente ao tradutor decidir como esta expressão
 grega será vertida. Que o principal tradutor da Tradução do Novo Mundo,
 Fred Franz, reconheceu isto, pode se ver na nota de rodapé deste versículo 
que aparece numa edição posterior, de letra grande, a Tradução do Nov
Mundo com Referências. A nota de rodapé diz:
* Ou, “e em casas particulares”.
Não é que seja errado traduzir kat’oikon (ou kat’oikous) como “de casa em 
casa”. É uma tradução perfeitamente correta e se encontra em muitas 
outras versões da Bíblia, mesmo em Atos 2:46. (Veja o Apêndice). Depende
 só do tradutor qual das opções, “de casa em casa” ou “em lares particulares”
, será usada nos dois textos. O errado é tentar fazer a expressão transmitir
 um sentido que de fato não existe.
Está claro que os apóstolos e outros cristãos primitivos visitavam 
pessoas em seus lares particulares. O que não está nada claro é 
que eles participavam na atividade de porta em porta conforme fazem 
atualmente as Testemunhas de Jeová. Pode-se afirmar isto, mas é uma 
afirmação sem qualquer prova.
Estes textos não são os únicos que a Torre de Vigia usa no esforço de 
apresentar o testemunho de porta em porta como o modo realmente cristão,
 igual ao de Cristo, de divulgar o conhecimento da Palavra de Deus. Outra
 passagem bíblica que usam muito em seus argumentos é 
Mateus 10:11-14, na qual Jesus deu estas instruções quando enviou seus 
apóstolos a pregar: 
Em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, procurai nela quem é

merecedor, e ficai ali até partirdes. Ao entrardes na casa, cumprimentai

a família; e, se a casa for merecedora, venha sobre ela a paz que lhe

desejais; mas, se ela não for merecedora, volte a vós a vossa paz. Onde

quer que alguém não vos acolher ou não escutar as vossas palavras, ao

sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés.
Nas publicações da Torre de Vigia, dá-se constante ênfase à declaração:
 “Procurai nela [cidade ou aldeia] quem é merecedor.” Então explicam que 
isto significa ir de porta em porta para encontrar pessoas receptivas às
 boas novas. Não se dá atenção às palavras do contexto, que dizem
 (versículo 11): “Ficai ali até partirdes.” Estas palavras quase 
nunca são explicadas nas publicações da Torre de Vigia, pois deixam 
claro que Jesus estava falando aqui não de testemunho de porta em 
porta, mas sobre obter hospedagem.
O Registro de Testemunho do Apóstolo Paulo
O capítulo 19 de Atos mostra que, ao chegar a Éfeso, Paulo “achou alguns
 discípulos”, cerca de doze, que nada sabiam acerca de receber o dom do
 Espírito ou de serem batizados no nome de Cristo, tendo sido batizados no
 batismo de João. Paulo os batizou no nome de Jesus. Mas deve-se notar 
que estes homens já eram “crentes”, “discípulos”, quando ele os encontrou. 
Ele não os ensinou como se fossem estranhos desinformados, mas como 
homens que já eram discípulos.
O caso deles pode se comparar ao de Apolo, descrito no capítulo anterior 
como “familiarizado apenas com o batismo de João” quando Áquila e Priscila
 o conheceram. (Atos 18:24-26) No entanto, mesmo antes que lhe
 expusessem “mais corretamente o caminho de Deus”, Apolo já “falava e 
ensinava com precisão as coisas a respeito de Jesus” na sinagoga. Embora
 incompleto no seu entendimento, ele já era cristão quando Áquila e Priscila 
o conheceram. Além disso, eles não o encontraram indo de porta em porta,
 mas enquanto eles próprios freqüentavam a sinagoga. Não há razão alguma para encarar os doze homens em Éfeso de modo diferente.

Após descrever o batismo destes homens por Paulo, o relato em Atos 
capítulo 19 diz: 
Entrando na sinagoga, falou com denodo, por três meses, proferindo

discursos e usando de persuasão a respeito do reino de Deus. Mas,

quando alguns prosseguiam em endurecer-se e em não crer, falando

injuriosamente sobre O Caminho perante a multidão, retirou-se deles

eseparou deles os discípulos, proferindo diariamente discursos no auditório

da escola de Tirano.
Este é o testemunho ocular de Lucas sobre o ministério de Paulo em Éfeso. 
Mostra que alguns dos que ouviam os discursos de Paulo na sinagoga durante 
aqueles três meses ou já eram ou tornaram-se discípulos depois. Não diz que
 estes, ou quaisquer outros, abraçaram o cristianismo em resultado da
 atividade de pregação de “casa em casa”. O contexto muito claro da 
evidência bíblica indica que isto foi mais provavelmente em resultado
 de terem escutado os discursos públicos de Paulo na sinagoga. Considere 
essa evidência conforme é apresentada no relato de Lucas:
Em todo o livro de Atos há exemplos e mais exemplos de pessoas que se
 tornaram crentes em resultado de discursos dados em lugares públicos ou 
de maneira pública. Os 3.000 em Pentecostes reuniram-se publicamente
 para ouvir Pedro e os outros discípulos falarem, e naquele mesmo 
diaarrependeram-se e tornaram-se crentes. Não estavam atendendo alguém
 às portas de suas casas. (Atos 2:1-41) Embora seja verdade que Cornélio 
e seus companheiros ouviram a mensagem de arrependimento e fé em Cristo
 na casa dele, a visita de Pedro ali não estava relacionada a nenhuma 
“atividade de pregação de “casa em casa”, mas era uma visita específica
 àquela casa. (Atos 10:24-48) Em Antioquia da Pisídia, em resultado de 
Paulo falar na sinagoga, alguns judeus e prosélitos “seguiram a Paulo
 e Barnabé” para ouvirem mais. (Atos 13:14-16, 38-43) Se alguma casa estava 
envolvida, era mais provavelmente aquela em que Paulo e Barnabé se
 hospedavam, onde estas pessoas interessadas os visitavam, o que é o 
oposto de serem visitadas em suas casas por Paulo e Barnabé. (Confira 
uma situação similar no ministério de Jesus em João 1:35-39.) No sábado
 seguinte, “todos os corretamente dispostos para com a vida eterna 
tornaram-se crentes”,na sinagoga, segundo todas as indicações. 
(Atos 13:44-48) Em Icônio, o relato diz que Paulo e Barnabé falaram
 de novo na sinagoga e “uma grande multidão, tanto de judeus como
 de gregos, se tornaram crentes”. Eles ‘se arrependeram e tiveram fé em
 Cristo’ em resultado do ensino público na sinagoga, sem menção a 
qualquer “atividade de “casa em casa”. (Atos 14:1) Em Filipos, Lídia 
‘abriu-lhe o coração e prestou atenção à mensagem de Paulo’, mas isto foi 
junto de um rio e foi só depois que Paulo entrou na casa dela, já como 
hóspede.1 O carcereiro filipense que mais tarde se converteu, conheceu 
Paulo quando este estava detido na prisão dele, e a entrada de Paulo na 
casa dele resultou de o carcereiro ter pedido para saber mais, não de
 uma visita não solicitada à sua casa. (Atos 16:12-15, 25-34) Em Tessalônica, 
o resultado de Paulo ter raciocinado com as pessoasna sinagoga por três 
sábados foi que “alguns deles tornaram-se crentes e associaram-se com 
Paulo e Silas, e assim fizeram também uma grande multidão dos gregos que
 adoravam a Deus” ― novamente, ensino público numa sinagoga sem 
menção a qualquer atividade de pregação de “casa em casa”. (Atos 17:1-4) 
Beréia, quando chegaram, “entraram na sinagoga dos judeus” e
 “muitos deles tornaram-se crentes, e assim também não poucas das
 mulheres gregas bem conceituadas e dos homens”.  (Atos 17:10-12)
 Em Atenas, após Paulo ter falado publicamente nasinagoga, na feira e no 
, todos lugares públicos, alguns “juntaram-se a ele e tornaram-se crentes”.
 (Atos 17:16-34) Em Corinto, Paulo, enquanto hospedado na casa de
 Áquila e Priscila, “cada sábado, dava um discurso na sinagoga 
persuadia judeus e gregos”. Quando a oposição o forçou a sair da
 sinagoga, ele foi para a casa vizinha de Tício Justo, e usou esta casa
 como lugar de ensino, e o relato diz: “Mas Crispo, o presidente da 
sinagoga, tornou-se crente no Senhor, e assim também todos os de
 sua família. E muitos dos coríntios, que tinham ouvido, começaram a crer
 e a ser batizados.” (Atos 18:1-8) Crispo e sua família tinham ouvido de
 início as boas novas na sinagoga e só mais tarde em sua casa, quando 
esta foi usada como local de reunião, sem a ocorrência de visitas de porta
 em porta.
Todos estes relatos antecedem o relato da atividade de Paulo em Éfeso.
 Devemos achar que estes não lançam luz sobre a declaração de Paulo
 em Atos 20:20 citada na Sentinela, de que ele deu “cabalmente testemunho,
 tanto a judeus como a gregos, do arrependimento para com Deus e da
 fé em nosso Senhor Jesus”? Onde exatamente Paulo tinha feito isso, em
 todos estes relatos? Foi em algum tipo de atividade de porta em porta? 
Ou foi, em vez disso, em lugares públicos, principalmente sinagogas? 
Quando se falou em casas, tinha ido ali o apóstolo em atividade de porta 
em porta, ou tinha sido, em cada caso, convidado àquela casa específica?
 Tinham as pessoas, “judeus e gregos”, se arrependido e se tornado 
cristãs através de ensino público nas sinagogas? Tinham, claramente.
Paulo diz que ensinou pessoas em Éfeso “publicamente e de casa em casa”.
 Se o primeiro método é público, o segundo, naturalmente, é particular. Visto 
no contexto extenso e detalhado de todo o livro de Atos, é claro que o caso
 de Éfeso pode ter sido este: Paulo encontrou crentes em resultado de ter
 falado na sinagoga, e mais tarde, na escola de Tirano, e depois disso foi aos
 lares desses crentes, uma casa depois da outra, dando-lhes instrução, não 
pública, mas particular, instrução personalizada.
Uma séria responsabilidade acompanha a argumentação parcial e
 tendenciosa que se usa para apoiar a alegação da organização de que 
a atividade de porta em porta é ensinada e defendida na Bíblia, e que 
era um método distintivo de testemunho do primeiro século. Não se
 trata de mera discussão acadêmica ou debate sobre aspectos técnicos. 
Tem impacto na vida das pessoas, e no modo como encaram a si mesmas
 e aos outros.
O método de porta em porta que a organização Torre de Vigia promove 
foi claramente convertido num padrão pelo qual se julga a espiritualidade 
dos outros e seu amor a Deus. Com certeza, qualquer ensino que traga
 essas conseqüências merece argumentos mais sólidos do que os 
encontrados nas publicações da organização, uma consideração 
mais plena e mais justa da evidência e das questões envolvidas.
___________
NOTAS:
1 Esta situação ilustra de modo notável como deve ter ocorrido
 anteriormente com 
os discípulos de Jesus nas suas viagens de pregação, ao aplicarem
 a sua instrução sobre permanecer nos lares de ‘pessoas merecedoras’.
Imagem: Revista A Sentinela de 1º de março de 1980, pág. 8

Raymond V. Franz

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