Papel de parede volta de Jesus
"ENTREGA TEU CAMINHO AO SENHOR, CONFIA NELE E O MAIS ELE FARA".
SALMOS 37.5

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Teologando...

Fazer teologia hoje no Brasil
Vivemos uma época única na história, que muitos estudiosos consideram como parecida à da
passagem do paleolítico ao neolítico, quando o ser humano deixou de ser errante e sedentarizou-se.
Outros a comparam ao período axial, que viu surgirem as grandes religiões e filosofias da humanidade,
que estão na origem dos temas e valores que marcaram as grandes culturas de nosso planeta.
Alguns batizam essa época de pós-moderna, hipermoderna ou supramoderna.

Seus principais traços seriam o acento na subjetividade ou no indivíduo, a falta de memória
e de utopia, o gosto pelo presente, o deslocamento da ênfase na ética para a estética, que
leva à primazia do hedonístico e do somático. Para muitos, esta nova época é cheia de ameaças,
pois ao ignorar a tradição, desconstrói o fundamento da coletividade, e ao menosprezar a esperança,
contentando-se com o gozo no presente, perde um dos aspectos específicos do humano:
a utopia. Para outros, mais que ameaça esta situação faz emergir novas perspectivas para a humanidade.
Ao valorizar o indivíduo, abre espaço para a questão do sentido da própria experiência. E
o indivíduo, apesar da tentação narcísica, não existe sem alteridade, e esta redimensiona de novo
a ética, abrindo à utopia e resgatando a memória. Além do mais, o período de convicções dogmáticas,
que marcou as épocas precedentes, seja a partir das grandes religiões, seja a partir das
ciências, não deixava espaço para o diferente. Por isso, mais que temer o presente, é preciso
aprender a habitá-lo outramente.
A teologia cristã também é provocada a conceber-se de outra maneira frente aos grandes
desafios de nossa contemporaneidade. Ela é chamada não só a enfrentar as principais questões
da humanidade levantadas pela mudança de época que é a nossa, mas a encarar os desafios
do lugar e do tempo a partir do qual se faz. No nosso caso, o Brasil. Como então fazer hoje
teologia em nosso país? Que elementos levar em conta?
O fazer teológico pode começar, sem dúvida, pela análise da especificidade da pósmodernidade
em nosso país. Este “ver”, que caracterizou por décadas a teologia latinoamericana,
não pode sem dúvida ser ignorado. Ele é o solo fecundo que interroga a teologia e a
alimenta. No entanto, antes de dedicar-se ao ver, é preciso ter clareza do que é a própria teologia.
Não é mais evidente, no Brasil atual, nem falar de teologia nem dizer-se teólogo/a. Isso porque,
por um lado, entramos numa época tão plural, do ponto de vista religioso, que a palavra
teologia acabou ganhando maior amplitude semântica, sendo reclamada pelas diversas confissões
cristãs que formam nosso caleidoscópio religioso e por outras religiões que não a cristã. Por
outro lado, no panorama universitário a religião em geral e as distintas confissões cristãs e não
cristãs em particular, são objeto de estudos das ciências humanas e das ciências da religião, muitas
delas em diálogo fecundo e crítico com a teologia, outras em competição com ela, em geral
partindo de um “agnosticismo” epistemológico, diferente da teologia, que parte da fé. A pergunta
que surge então é: qual é o estatuto epistemológico da teologia? Pode-se ainda afirmar sua cientificidade,
uma vez que que existem teologias e não a teologia? A resposta a essas questões não é
tão fácil. Queremos aqui dar uma contribuição, a partir do universo da teologia católica, cuja
cientificidade remonta ao início do cristianismo.

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